Solidão, Solitude e Saudade

Era uma tarde serena, daquelas que parecem convidar a reflexões profundas e conversas tranquilas. Sentado em um banco do parque, observei uma senhora que já era uma velha conhecida do bairro. Seu nome era Dona Ester.

Curioso, chamei-a para um breve diálogo, e ela aceitou com um sorriso amável. "Como vai, Dona Ester?", perguntei.

Ela suspirou e respondeu: "Vou indo, meu jovem. A vida tem me ensinado muitas lições, e hoje quero falar sobre algo que tem me acompanhado há algum tempo."

Aquelas palavras me intrigaram, e pedi que ela continuasse.

Dona Ester começou de forma suave, mencionando a saudade. Ela falou sobre como a saudade era uma companheira constante em sua jornada. Saudade dos tempos em que a vida era mais simples, saudade de entes queridos que já não estavam mais presentes, saudade de momentos que jamais poderiam ser revividos.

E então, ela introduziu o tema central da nossa conversa: a diferença entre solidão e solitude.

Ela explicou que solidão era o vazio que muitas vezes sentimos quando estamos sozinhos, uma sensação de isolamento que nos faz ansiar pela presença de outros. Era um sentimento doloroso, uma ferida emocional que, se não cuidada, poderia se tornar crônica.

"Por outro lado", ela continuou, "a solitude é um estado de ser. É a capacidade de estar consigo mesmo sem se sentir só. É a arte de desfrutar da própria companhia, de se sentir completo mesmo na ausência de outros."

Dona Ester compartilhou que, ao longo de sua vida, experimentou ambas. Houve momentos em que a solidão a engolfou, quando a ausência dos filhos e amigos a deixou com um vazio avassalador. Mas também houve momentos de pura solitude, quando encontrou a paz na leitura de um bom livro, na contemplação das estrelas ou em uma simples caminhada no parque, como aquela que estávamos tendo.

"É importante entender que a solitude não é um escape da realidade, mas um encontro consigo mesmo", ela disse. "É uma oportunidade de autoconhecimento e crescimento espiritual."

Conversamos sobre como a sociedade contemporânea muitas vezes associa solidão à infelicidade e solitude à autossuficiência. Dona Ester acreditava que essa perspectiva simplista não fazia justiça à complexidade das emoções humanas.

O que mais me surpreendeu naquela conversa foi a sobriedade e consciência de Dona Ester. Suas palavras eram como pérolas de sabedoria, e eu me sentia abençoado por estar ali, ouvindo suas histórias e reflexões.

Don Ester continuou: "A saudade nos lembra da importância das conexões humanas, dos laços que criamos ao longo da vida. Ela nos ensina a valorizar o tempo que passamos com os outros, porque um dia, esses momentos se transformarão em preciosas lembranças."

Aquelas palavras foram como um soco no estômago, me fazendo encarar a verdade de frente. Eu tinha valorizado a solitude, mas às vezes havia me perdido na solidão, esquecendo a importância das relações humanas.

Enquanto Dona Ester se afastava, continuei sentado no banco do parque, mergulhado em meus próprios pensamentos. Percebi que, assim como ela, eu também havia encontrado paz na solitude, na contemplação e no autoconhecimento. Mas a saudade que ela mencionara era um lembrete de que a verdadeira riqueza da vida estava nas relações, nas conexões que fazemos com outros seres humanos.

Agradeci a Dona Ester por suas sábias palavras e continuei minha jornada, contemplando a diferença entre solidão e solitude, e como essa reflexão enriquecia minha própria vida. Aprendi que é importante valorizar cada momento com aqueles que amamos, pois a saudade, um dia, nos fará perceber o quão preciosos esses momentos foram.

Bernardo Reis
Enviado por Bernardo Reis em 05/09/2023
Código do texto: T7878453
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