Pare ai, Seu Motorista!

Hoje foi uma “tinha!” Quando ele saiu de casa, ouviu a buzina do ônibus. Sentiu logo aquele gelo. Nem lembrou se fechou o portão, pela correria, eu acho que não. Embora tenha saído às pressas, não deu outra: o veículo partiu antes mesmo dele conseguir chegar perto. A princípio, se questionou, demorei mais do que o normal hoje, ou o ônibus veio mais cedo?… Não soube dizer ao certo. O que está feito, está feito. Parece que nesse meio tempo, a ficha caiu. Perdi mesmo! Seu suspiro foi profundo.

— Minha nossa Senhora, o ônibus foi embora e eu fiquei. — Disse ele com voz estupefata.

— Seu Motorista, pare o ônibus. — Disse em voz alta. — SEU MOTORISTA, PARE O ÔNIBUS! Berrou! — Oxente! Num deu foi em nada. O motorista continuou seu caminho como se nada tivesse acontecido.

O Ônibus seguiu pela rua de cima e ele decidiu ir pela rua de baixo, uma reta sem distrações. Seu desejo era conseguir chegar à rotatória antes do veículo. Respirou fundo, bem fundo mesmo, até sentiu que ia estourar feito balão. Jogou a mochila nas costas, incorporou o medalhista Usain Bolt e saiu como um corredor profissional.

O desejo de pegar o ônibus levou o corpo a se unir em uma sinfonia de força silenciosa. Os passos se multiplicaram, os músculos, dançaram e os braços ofereceram equilíbrio e um impulso adicional. Embora estivesse motivado e suas longas pernas fizessem o ardo trabalho, ele não conseguiu. Foi por pouco, por pouco mesmo. Mesmo com toda a determinação, o ônibus não parou.

De relance viu o sorriso maroto do amigo em sua direção. Ele o viu e não parou, como pode isso acontecer? Às vezes, mesmo estando comprometidos com algo, não conseguimos concretizar o que almejamos, pois há forças alheias que nos impedem de alcançar nossos objetivos. Os músculos dele criaram uma sinfonia tão magnifica igual aos efeitos visuais do cinema, mas o amigo, ah! ele não foi tão amigo assim.