A Eterna Guerra Romântico-Realista
Não é necessário um realista para encontrar a realidade, cada um tem a sua própria, e mesmo cada uma sendo individual, alguns ainda insistem em dar palpite nas alheias. Às vezes, eu me pego pensando: “seria esse o ápice da nossa sociedade?” Décadas atrás, bravos homens saíam de suas casas para lutar na guerra com o propósito de outras pessoas não terem que sofrer. Atualmente, acontece algo semelhante, a diferença é que virou uma competição de quem consegue sofrer mais. Como eles desejam que otimistas ainda existam com pessoas assim sendo predominantes no planeta?
Fernando Pessoa contradiz o começo do meu primeiro parágrafo quando disse nos seguintes versos seus: “É necessário um realista para encontrar a realidade; o romântico é necessário para criá-la”. Parece que os Românticos nem se esforçaram para criar a nossa realidade de tão decepcionante que ela tende a ser.
No dia 14 de junho de 2023, um navio de imigrantes naufragou na costa sul da Grécia com 750 pessoas, das quais apenas 100 foram resgatadas. Enquanto isso, o mundo inteiro se preocupava com o submarino de bilionários que estava desaparecido em meio ao oceano. O mesmo ganhou até documentário, já os refugiados devem ter ganhado o re-post de famosos fingindo que se importam. Estou dando prioridade às mortes? De forma alguma! Sob o mesmo ponto de vista, as nossas corporações continuam preocupadas com aquilo que gera entretenimento e não com o lado humano da notícia.
Voltando aos românticos... Seres de certeza no século do talvez, eu, sinceramente, tenho um profundo ódio por eles. Esses indivíduos popularizaram a expressão que se tornou a mais banal do século XXI, que é o “eu te amo”. O “eu” se referindo a quem declama, o “te” direcionando a ação da frase para um indivíduo e, por último, o “amo”, derivado não só da palavra amor, mas também da maior mentira dita pelo ser humano. Tanto essa frase quanto seus sinônimos literários não têm valor algum, assim como todas as obras relacionadas ao amor. Textos retratando problemas, tragédias e outros temas sensíveis têm muito mais engajamento. Eu não os julgo, ninguém quer prestar atenção no romântico. Convenhamos, não faz mais sentido incentivar alguém a espalhar a essência dos Românticos; espalhar o ódio tem sido tão valorizado... há gente que consegue ser até eleito com esse tipo de discurso.
Há pouco mais de 120 anos, cartas de amor eram a febre do momento. Era lindo receber aquele tipo de carta, descrevendo o amor que você sentia por aquela pessoa ou por algo como um sentimento único. Aquela carta tornava o leitor único, aquilo sim tinha algum valor. Não serei tão frio a ponto de dizer que o amor não existe, ele existe, mas está presente em lugares tão imperceptíveis, que passam despercebidos pelo olhar da maioria. Quer um exemplo? Ações, elas descrevem sentimentos muito melhor do que palavras, muitas vezes o mais sincero “eu te amo” está em uma simples conversa, em um almoço feito com carinho, em lavar os pratos para a sua mãe, ou até mesmo o mais sincero “eu te amo” pode ser dito no silêncio de uma cruz.
O amor deveria ser um sinônimo de gratidão, os que são gratos apenas por existir conseguem contemplar a realidade de maneira muito mais satisfatória. É um exemplo dos antigos românticos, eles queriam que o amor se espalhasse pelo mundo e se tornasse uma grande epidemia. O problema é que os realistas criaram a cura muito rápido.
Lembra que eu disse que os textos de amor perderam a credibilidade? Esse aqui, com certeza, perdeu a sua própria. No século do talvez, não seja um copo de água morna, nem lá, nem cá; a minha avó dizia que ela não presta nem pra fazer café. Da mesma forma, lembre-se do ontem, seja grato pelo hoje e viva ansioso pelo amanhã. A vida é muito curta para se contentar com o talvez. Nunca quis parecer filosófico, nem mesmo engrandecer o meu ego dizendo palavras bonitas, sou apenas um romântico tentando criar a minha própria realidade.