Rir é o melhor remédio...
Viajar de trem para Barra Mansa, partindo de Arantina, sempre foi emocionante.Gostava de observar a paisagem, o trem parando naquelas pequenas cidades ou simples paradas,cada uma com sua peculariedade. Ainda me lembro de alguns nomes, embora todas essas viagens tenham acontecido quando eu era menina e a ordem em que se sucediam tenha se perdido em minhas lembranças: Carvão, Rutilo, Carlos Euler, Augusto Pestana, Passa Vinte,Falcão, Quatis...subindo e descendo a serra, saindo de Minas e entrando no Estado do Rio de Janeiro.Uma viagem interestadual, uma aventura para quem vivia no Arraial de Arantina, então município de Bom Jardim de Minas. Uma roça. Eu nunca viajei sozinha, algumas vezes fui com a prima de minha mãe, que mais tarde tornou-se minha tia. O objetivo era sempre fazer alguma compra, eu acredito, mas não me lembro bem. Sei que íamos a lojas e ao cinema e eu me encantava olhando as vitrines e o brilho das luzes. Foi em uma dessas viagens que o inusitado aconteceu. O trem sacolejava molemente seguindo seu caminho e as paisagens já conhecidas desfilavam do lado de fora, como se fossem elas que estivessem passando e nós, do lado de dentro apenas olhando. A fome apertou embora estivéssemos relativamente perto de nosso destino. Minha ainda não tia tirou um embrulho de uma sacola onde carregávamos a matula: bananas. Bananas nanicas enormes, pintadinhas de marrom e me deu uma. Ela descascou outra, a moda dos símios e se pos a comer. A minha se foi em um minuto, ainda hoje, deseducadamente eu, mais que mastigo, engulo o alimento, causando espanto em todos. Mas ela, a prima, mastigava solenemente a banana quando o trem deu um salto louco e descarrilhou, soltando suas rodas dos trilhos. O nosso vagão apenas saiu dos trilhos, mas um rolou pelo barranco, jogando longe o ferroviário que viajava andando em cima dos vagões, sei lá para que.Eles costumavam fazer isso, andar em cima do trem, talvez para se mostrarem, se era isso conseguiam, porque eu morria de inveja e este foi um dos meus sonhos de infância não realizados. O susto foi grande por um único minuto porque então olhei para ela, a minha guardiã, que chorava como uma carpideira, se lamentando. E enquanto fazia isso, ela não parou, por um minuto sequer de comer a tal banana. Chorava e gemia, ai, meu Deus!, colocava mais um naco na boca, mastigava engolia e continuava a se lamentar. E eu, como uma louca, desandei a rir, não sei se de nervoso, ou por ter achado engraçado mesmo. A esta altura todos já tinham descido do vagão, menos nós. Só quando ela acabou de comer a tal banana, descemos. Aí, fomos esperar a solução do problema. Bananas acabadas, a fome crescendo, eu provavelmente azucrinando a cabeça dela, ansiosa para chegar a Barra Mansa, ela alugou um carro que surgiu não sei de onde para nos levar. E o carro seguiu dando mil voltas por alguma estrada poeirenta, não me lembro de nada, só me lembro que, quando passávamos por Quatis, pela estação ferroviária, lá estava ele, o trem...sombranceiro e ativo, pronto para seguir o seu caminho. Provavelmente chegou antes de nós...mas, e dai?O importante foi ter vivido essa aventura inesquecível e ridícula. E, a lembrança dessa ridícula cena, me fez lembrar de outras, que me compravam: rir é o melhor remédio.
Viajar de trem para Barra Mansa, partindo de Arantina, sempre foi emocionante.Gostava de observar a paisagem, o trem parando naquelas pequenas cidades ou simples paradas,cada uma com sua peculariedade. Ainda me lembro de alguns nomes, embora todas essas viagens tenham acontecido quando eu era menina e a ordem em que se sucediam tenha se perdido em minhas lembranças: Carvão, Rutilo, Carlos Euler, Augusto Pestana, Passa Vinte,Falcão, Quatis...subindo e descendo a serra, saindo de Minas e entrando no Estado do Rio de Janeiro.Uma viagem interestadual, uma aventura para quem vivia no Arraial de Arantina, então município de Bom Jardim de Minas. Uma roça. Eu nunca viajei sozinha, algumas vezes fui com a prima de minha mãe, que mais tarde tornou-se minha tia. O objetivo era sempre fazer alguma compra, eu acredito, mas não me lembro bem. Sei que íamos a lojas e ao cinema e eu me encantava olhando as vitrines e o brilho das luzes. Foi em uma dessas viagens que o inusitado aconteceu. O trem sacolejava molemente seguindo seu caminho e as paisagens já conhecidas desfilavam do lado de fora, como se fossem elas que estivessem passando e nós, do lado de dentro apenas olhando. A fome apertou embora estivéssemos relativamente perto de nosso destino. Minha ainda não tia tirou um embrulho de uma sacola onde carregávamos a matula: bananas. Bananas nanicas enormes, pintadinhas de marrom e me deu uma. Ela descascou outra, a moda dos símios e se pos a comer. A minha se foi em um minuto, ainda hoje, deseducadamente eu, mais que mastigo, engulo o alimento, causando espanto em todos. Mas ela, a prima, mastigava solenemente a banana quando o trem deu um salto louco e descarrilhou, soltando suas rodas dos trilhos. O nosso vagão apenas saiu dos trilhos, mas um rolou pelo barranco, jogando longe o ferroviário que viajava andando em cima dos vagões, sei lá para que.Eles costumavam fazer isso, andar em cima do trem, talvez para se mostrarem, se era isso conseguiam, porque eu morria de inveja e este foi um dos meus sonhos de infância não realizados. O susto foi grande por um único minuto porque então olhei para ela, a minha guardiã, que chorava como uma carpideira, se lamentando. E enquanto fazia isso, ela não parou, por um minuto sequer de comer a tal banana. Chorava e gemia, ai, meu Deus!, colocava mais um naco na boca, mastigava engolia e continuava a se lamentar. E eu, como uma louca, desandei a rir, não sei se de nervoso, ou por ter achado engraçado mesmo. A esta altura todos já tinham descido do vagão, menos nós. Só quando ela acabou de comer a tal banana, descemos. Aí, fomos esperar a solução do problema. Bananas acabadas, a fome crescendo, eu provavelmente azucrinando a cabeça dela, ansiosa para chegar a Barra Mansa, ela alugou um carro que surgiu não sei de onde para nos levar. E o carro seguiu dando mil voltas por alguma estrada poeirenta, não me lembro de nada, só me lembro que, quando passávamos por Quatis, pela estação ferroviária, lá estava ele, o trem...sombranceiro e ativo, pronto para seguir o seu caminho. Provavelmente chegou antes de nós...mas, e dai?O importante foi ter vivido essa aventura inesquecível e ridícula. E, a lembrança dessa ridícula cena, me fez lembrar de outras, que me compravam: rir é o melhor remédio.