Cara vida...
Cara vida, vá se foder.
É inegável que não sentirei sua falta, contudo há de parabenizar-te, num tempo tão singelo e diligente provou-se capaz de mostrar-me seu perfume mais profano, sua dança mais fatal e é claro, sua sátira mais nociva.
Se algum dia te desejei, era mentira.
Se algum dia acreditei, era efêmero.
Se algum dia te amei, bom, era ilusão.
Mas não chore, minha querida, haverá sempre incontáveis fiéis cegos e ludibriados por sua beleza e ofertas encantadoramente finórias.
A ti, entreguei minha disposição integral, vivendo em suas realidades dissimuladas e provando conscientemente seu delicioso veneno, com a mais incisa certeza de que ao final colheria a paz.
Ah, querida, tens o dom da mentira e a admiração da hipocrisia.
Foi assim então, que julguei arrematada minha vontade de tê-la comigo.
Tenho de admitir que ao completar o passo em falso e deixar-me em suspensão, esperei a onda impetuosa de arrependimento consumir-me, contudo... o que veio a mim foi a graça do alívio e da plenitude.
E se me permite dizer, a melhor parte foi que não havia resquícios de vida nesse silêncio.