Dinâmica do papel amassado e TODAS as leituras possíveis.
Sentada recebo o papel. Escuto a voz que estabelece um comando já conhecido por mim. Amasso a folha, sem muita agressividade, e até indiferente. Na minha perspectiva quem me deu a folha e me pediu para amassá-la é muito mais responsável que eu pelos danos e amassados infringidos ao papel. Como a vida, essa é uma dinâmica perigosa. Ao me ferir eu não posso só acusar o outro e esse nunca será um exercício fácil. Não falo de culpa. Culpar-se é como chilique de criança filho de pobre, no fim só rende umas boas palmadas. Falo de assumir sua parte, inclusive no que deixou que fizessem a vc, pq tudo acontece a partir da sua concessão. E então eu entendo sua fala inspirada nisso, vc assume sua parte em tudo e me manda assumir a minha. Acho justo. O grande problema é te ver despedaçado e não poder fazer absolutamente nada sobre isso. Então na minha inutilidade em sua presença eu vou entendendo que não se pode fazer nada por quem já foi, a não ser desejar o bem de longe, desejar sorte, desejar o que tem de melhor nesse mundo.
Saio desse devaneio e volto p conversa atual. Escuto ao longe a voz que diz sobre o papel amassado não mais retornar ao seu estado inicial...
Eu desamasso o papel, pego minha lapiseira amarela, eu gosto muito dela e ela segue comigo....No papel escrevo:
MUITAS VEZES NA VIDA EU FUI ESSE PAPEL. POSSO DIZER, NO ENTANTO QUE EU NÃO JOGO EM NINGUÉM A CULPA DOS MEUS AMASSADOS E FERIDAS.
EU POSSO NÃO SER O MELHOR DO POTENCIAL QUE TENHO, MAS EU APRENDI QUE SEMPRE SÓ VAI ME RESTAR SEGUIR, COMO SE EU FOSSE O PERSONAGEM PRINCIPAL DO FILME "O PIANISTA"
EU SIGO CAMINHANDO EM MEIO AS RUÍNAS PORQUE NA MAIOR PARTE DO TEMPO EU SÓ TENHO ESSA OPÇÃO.
(Texto antigo de janeiro de 2022)