!ETNAVA E SÀRT ARAP: PARA TRÁS E AVANTE!
No auge de heresia à ortodoxia, digo que ao menos tentei vislumbrar logo no começo, coisa boa que comunicasse. O tal tik que tem virado tok, o da bolha das danças, é um evento um tanto curioso que chama minha atenção. Os menos polidos podem dizer que se trata de eufemismo de minha parte. Talvez.
É... talvez, mas nesse talvez, o que não é incerto é que isso se espalhou. As ditas modas são realmente virais. Viralizam. Como vírus, adapta-se a ponto de buscar o equilíbrio para aproveitar seu hospedeiro ao máximo. A uns mata, a outros adoece severamente. E o caminho viral é curioso. Dancinhas por dancinhas sorrindo. Letras eróticas reboladas com pouca roupa ou algo que atraia atenção. Talvez um sintoma de algumas pessoas em estado de catacrese.
Nunca se quis tanto contemplar a tal cara-de-bunda, outros tantos no anseio de bunda-de-cara, mas certo é que ao menor sinal no feed – que curiosamente significa alimentação –, o que se vê é de-cara-bunda. Não sejamos paladinos da hipocrisia. Não! Se está armado da espada de moralismo e elmo de certezas cartilhadas, definitivamente, acho que esse texto será imprestável. Por favor, não leia.
Alguns dizem, na certeza de pureza se revelaria um canalha. Olha, eu talvez seja um canalha. Mas um canalhinha quem sabe, honesto. Nada de pureza ou perfeição. Retomemos à bunda, digo, ao texto. Se algo está visto e repercutindo é porque se anda consumindo, enquanto outras viraram a ausência do prefixo dessa palavra. Um gerundismo modular: sumindo. Mas não falo da pureza. Digo do lodo do espírito rebelde. Esses dias o Voltaire mandou lembranças da bastilha. Os humanos estão sumindo!
Dizem por aí que Voltaire está em vias de ser morto no exílio. Olha, posso afirmar, do fundo de minha canalhice, que ele está vivíssimo. Ai de mim se ele não estivesse. Mas ele está sumido. Tadinho, ele é muito analógico. Agora é a onda digital. Tudo tela; tudo felicidade; tudo feed, feed. Os dedinhos deslizando na tela, feed. Feed. Agora, aqui de pé de orelha: que alimentação é essa que nos é passada? Afinal, bem sabemos que Algoritmos não diferenciam um hábito de uma bunda, mas em seu fluxo, caso demonstre interação e tráfego, o que quer que seja, será posto em evidência. Poucas vezes vi uma imersão tão grande sobre a profundidade da estética.
Estamos sendo alimentados por uma dieta de bolha. E olha, garanto a você que se somente se alimentar do que gosta, ficará doente. Ninguém sobrevive só do que se gosta. A vida não é um moranguinho com chocolate. É preciso saber do diferente; é preciso estar deslocado por vezes; é preciso que se entenda que não advém prazer muitas vezes da luta mental do processo em crescer intelectualmente.
Cada vez mais ruídos; a cada dia mais distrações. A casa está sempre lotada e com tumulto. Quem consegue introspecção no falatório das informações? Sem capacidade de discernimento, dados nada dizem. Mas se na linguagem, signos são elementos de significação e se Heidegger tiver uma razão assertiva na morada do Ser. Linguagem é o caminho e parece a cada dia mais distante.
O plot twist do real é imperdível, digo, inevitável. Ou... bem, deixe para lá. Viraliser. Ignorance. Prisonnier. Não me vejo envolto à mofo, afinal, se, e apenas se, eu estiver sendo cogitado como saudosista, eu responderei exatamente como ouvi certa vez: Gott ist Zeit. Und die Zeit ist nicht barmherzig (Deus é tempo. E o tempo não é misericordioso). Por certo não há misericórdia no tempo, já que nós somos o tempo. Miserabili senza misesicordia. Resta-nos o amém. O deus homem está digital!
Prometi de maneira vã, que faria esse reclame numa página apenas. Então o custo da síntese é se perder o próprio todo, num bloco caótico, como é o azul e este texto.
Como digo do nada para lugar nenhum, não há de faltar nada. Aliás, finalizando: recordo-me de conversas de bar, onde se levanta sobre o porvir. Numa fé de que o futuro, futuro nesse tempo humano, tempo criado, mudado, acelerado, precificado, irá nos conduzir à frente. Como se futuro fosse o adiante.
Evoluir pode ser uma piora. O à frente pode ser o retorno, o tal eterno retorno. Ao final, afinal, todos dançamos... com dancinhas ou não. Que bunda...