Madrugada fria
Meu canto ouviu quando o frio balanço do mar lhe envolveu. Cantou tão só um canto de escuridão que a mim me chamou e me trouxe das profundezas das águas. Vestida com a armadura mais bela, adornada com a força de donzela, meus olhos o fitaram e assim, de longe, sob a bruma fria, lhe lançando a rede, lhe envolvendo aos poucos, meu desejo era tê-lo. Mas não apenas ter como se tem alguém por uma noite. Meu desejo era possuir, prender, usar. Meu desejo era encantar e trazer do seu âmago o seu todo. O seu eu, o seu gozo, o seu ar, o seu mal, seu fel. Meu desejo era ouvir seus suspiros de dor e delícias, de baixarias frias, vermelho e sombrio enquanto me tocava e sem me dizer nada, encontrava meu mais intenso eu. Meu desejo não tem nome. É intenso, duro, inexorável. Meu desejo com você é inefável. Todas as vidas que me cruzam nos mares altos, todos os amantes que levo comigo, de olhos sombrios aos meus salões. Todos os sonhos e cores invernais que levo comigo, como adorno de meu castelo no fundo do mar. Cada um deles eu trocaria, se fosse você o Príncipe dos Mares que me visita a cada alvorecer. Não, eu não deixaria partir. Não, eu não deixaria evoluir ou sair. Eu te prenderia em uma teia de prazer e luxúria, de amor e delícias, e nessa roda sem fim, você descobriria que não há o que evoluir mais. Somos perfeição. Olhe as ondas e me siga para o mais profundo delas. E lá, emaranhado de águas, torne-se parte do meu mar.