Menino de Rua

Menino de rua temo, por sua sorte.

A decisão não foi sua. Agarrou-se à primeira tábua que encontrou para escapar da fome, da miséria e especialmente do descaso dos seus pais.

Não os condeno; podem ter sido vítimas também.

Ainda temos esta chaga, que não soubemos eliminar. É a palavra certa?

Muitas coisas podem ser eliminadas. Mas o abandono, a falta de carinho, amor e educação podem por acaso construir algum homem ou mulher?

Ninguém acredita, e com razões que aqui não cabem. Seu pai, muitas vezes, luta para manter a casa miserável, que tem luz por causa do “gato”, que tem chão porque a terra existe.

Sua mãe quase sempre é uma sofredora; admitida a hipótese que o pai trabalha, pequenos biscates ela também os faz. Isto quando não apanha do companheiro bêbado, sem emprego, sem ofício, sem nada.

Você existe, menino de rua, não só aqui, país em desenvolvimento. Muitas nações ricas e prósperas também sofrem com o mesmo flagelo. Existe solução?

Dizemos todos nós que solução só não existe para a morte. A afirmação pode parecer até mesmo chula, mas que é verdadeira é. Mas isso justifica sua existência? Sem teto, com alimentação incerta, analfabeto e nenhum futuro.

Você não liga. Cheira cola, fuma maconha e sonha que um dia será igual ao seu chefe, quase sempre um traficante de drogas.

Começa a sua vida tomando conta dos lugares onde o tóxico é vendido. Aproveita a oportunidade, e armado fortemente, segundo parece, faz uso dele também.

Nem sempre possui um jeans decente, uma bermuda bem feita, ou um tênis de marca. A arma que carrega não é sua, é da organização criminosa.

Sonhos... Você pensa no dia que vai ocupar lugar importante. Acaso existe lugar importante no crime? Nos seus devaneios, a mocinha cobiçada, aquela que mora perto e que todos desejam, um dia será sua.

Será mesmo? Ou você vai ser morto pelas forças de repressão, ou mesmo por colegas que almejam seu status?

Pobre menino de rua, cuja oportunidade foi nada, o amor desconhecido, momentos de fome passou, de solidão sempre sofreu e ainda tenta, com esperança duvidosa, em algum dia realizar seus sonhos...

A culpa não é dele; é de todos nós.