CONSIDERAÇÃO DE ANIVERSÁRIO
Quando o calendário o situou entre os 22 anos contra si e seus 22 anos contra o mundo, Tribuzi, o Bardo, declarou que, em seu espírito, havia um sentimento de ode e elegia, uma doce saudade, uma lágrima pura, uma pequena comoção e um triste sorriso para os dias passados — duramente jamais recuperáveis.
A minha consideração de aniversário — pedindo licença e perdão ao Bardo — é um pouco mais diferente. Meus 28 anos (que serão muito bem comemorados hoje, disso vocês podem ter certeza) não pesam a meu desfavor. Muito menos estão contra o resto do mundo. E posso até mostrar um sorriso triste para os dias passados. Mas eu garanto que é um sorriso breve, de quem enxuga as lágrimas e, mesmo considerando que nossas perdas são irrepará-veis (porque são), continua acreditando que a vida, muito mais do que a morte, não tem li-mites ou fronteiras.
Neste meu espírito, não há o eco de um cantar mais triste. O que há é algo modesta-mente inspirado nos poemas de Neruda. Versos que abrem para mim todas as portas da vida. Que se erguem, neste novembro de minha ressurreição, como cascata de espuma ou como a rosa (Andréa Gonçalves) que resolveu nascer à margem esquerda da linha torta do meu des-tino.
Tudo o que lhes prometo (aos meus amigos, à minha família) é que a alma do homem (no caso, eu, com todos os seus erros e virtudes), do escritor (também eu, ainda que o menos talentoso de todos) e do poeta (um vate comum, entre tantos bardos que nascem, crescem, multiplicam-se e imortalizam-se nesta Terra das Palmeiras, onde o sabiá nunca deixará de cantar, isso eu prometo) continuará sendo sempre o mesmo, imutável, e a palavra — para todo o sempre, como sempre —será o átomo desta alma. Palavra pura, tímida e perfeita, como os versos que todo santo dia faço para as mulheres da minha vida. Modéstia à parte.
A CRUCE SALUS.
NEY FARIAS CARDOSO
SÃO LUÍS-MA