"riscar a caneta"

Quero escrever sobre riscar livros, e o que me veio sobre isso. Tenho um livro muito precioso, e li trezentas e poucas páginas e somente riscando a lápis, porque não queria marcá-lo. Sendo que nos primórdios li algumas páginas e não risquei nada para deixá-lo fresco, puro, como nasceu, mas depois de súbito queria achar algo e como não tinha riscado perdi, então decidi comigo mesma, a riscar a lápis, mas já avançada as páginas refleti: riscar livros me expõe, conclui que: se eu comecei não querendo riscar, isso pode dizer que eu quero passar pela vida puramente, ou que eu tenho medo de me expor, mas eu queria poder riscar a minha vida a lápis, e depois se deseja-se eu poderia simplesmente, apagar e estar pura, como na primeira vez que se toma um ato a mão, que olha o mundo nos olhos, mas desde que vim ao mundo vou constituindo um conjunto de eus e outros, portanto, a lápis isso me impede de viver plenamente o presente, de forma inteira e resignada, já que a vida não é um rascunho, desse modo vou "riscar a caneta" que é: "viver plenamente o presente como ele se apresentar": é saber que estou vivendo sem arrependimentos, consciente, e tenho que fazer isso de todo. Por consequência desisti da batalha, riscava um pouco a lápis e um pouco a caneta, mas de todo me resolvi: risco a caneta, e assim me marco no belo que vi, que amei, que vivi. Vou me viver de inteiro de uma vez, todas as vezes. Quando eu morrer, e alguém ler justamente esse meu precioso livro, quero que a pessoa me sinta ali, então ainda viverei, e de algum modo o leitor me viverá. Concluo que riscar a caneta é amor fati.

Pamela Braga
Enviado por Pamela Braga em 23/08/2023
Reeditado em 23/08/2023
Código do texto: T7868229
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