AH, ESSE TAL DE XADREZ.

_ Oi, filhão, pode nos dar licença, sua mãe e eu precisamos conversar com você.

Estamos muito preocupados, pois percebemos que você diminuiu seu tempo para as atividades escolares, está constantemente rindo pela casa e, também, não para de estudar e jogar esse tal de xadrez.

_ Queremos marcar um psicólogo pra você, o mais rápido possível.

Isso tudo, filho, tem a ver com o evento desse tal de xadrez que você foi outro dia jogar com o pessoal da sua escola?

Você pode nos contar mais sobre esse torneio?

Sua mãe e eu não estamos conseguindo dormir tranquilos, pensando em você e no seu comportamento ultimamente.

_ Pai, mãe, sempre gostei de futebol e outros esportes, mas a partir do momento em que aprendi a jogar xadrez com o mestre da minha escola, fiquei apaixonado por esse jogo.

Primeiro, pai, gostaria de dizer que o xadrez não é só um jogo: é um esporte, uma ciência, uma arte.

Segundo, sobre eu andar pela casa rindo, confesso que é quase sempre pelo estado de satisfação em que me encontro jogando.

E com relação a redução do tempo para as atividades escolares, posso afirmar que quando pratico o xadrez, estou também desenvolvendo habilidades de raciocínio, tornando meu cérebro mais ágil e preciso , necessitando, assim, de menos esforço mental em minhas atividades escolares.

E digo mais: minha concentração também melhorou bastante.

Os exercícios de tática, as análises de valores de trocas de peças e a movimentação no tabuleiro têm me ajudado muito nas disciplinas de exatas.

Hoje, minhas atitudes tanto na escola quanto na vida melhoraram demais, e isso, graças a esse jogo.

A respeito do torneio que participei, ocorreu no grande salão do Hotel Rio Poty. Fiquei admirado e empolgado quando cheguei lá. Pedi ao meu colega para me beliscar e verificar se era real ou se eu estava sonhando.

Fiquei maravilhado com o cenário, principalmente, com as mesas, lindamente preparadas para os jogos. Nunca vi nada parecido.

Alguns mestres do xadrez nos disseram que nem sempre haveria cenários assim, tão encantadores. Alguns torneios ocorrem em lugares bastante ruins, com tudo muito simples e precário, por essa razão, é importante valorizar os organizadores dos torneios, por todo trabalho que fazem, seja ele simples ou glamoroso.

Entre tantos benefícios da prática do xadrez, a socialização merece destaque, pois nesse local havia um grande número de pessoas, de diversos lugares, como: Teresina, Parnaíba, Vila Nova, Cajueiro da Praia, São João do Piauí, Picos, Oeiras, José de Freitas, Altos, Esperantina, etc.

Também, jogadores de dois municípios do Maranhão estavam presentes: Caxias e Timon. Vieram em caravanas, vans, ônibus especiais, enfim, muita gente: alunos, pais, professores, organizadores, todos se enturmando e fazendo amizade.

Houve um grande esforço para que esse Festival Piauiense de 2023 pudesse acontecer, inúmeras pessoas participaram. O objetivo desse torneio era destacar os campeões piauienses de xadrez masculino e feminino, sub 10, sub 12, sub14 e sub 16.

Esse foi o primeiro torneio de xadrez que participei, com menos de um ano de prática. Não me saí tão bem, mas, isso eu já esperava. Com essa experiência, percebi o que realmente desejo e onde quero chegar. Sei que tudo vai depender de mim, do quanto dedicarei ao estudo do xadrez.

Embora meu desempenho não tenha sido bom, foi muito gratificante poder sentir a energia e o clima gostosos que irradiavam no local dos jogos. Um brilho intenso no olhar das crianças e adolescentes, uma satisfação em praticar esse esporte tão divertido e saudável.

Divertido, obviamente porque vivemos grandes emoções, sejam com as vitórias ou com as derrotas. Esse clima de alegria presente no ar contagiava todos ali presentes, sejam pais, amigos, atletas, todos vibravam e se divertiam com as partidas.

_ Filho, quando foi que você percebeu que o xadrez é o esporte ou jogo que você quer praticar?

_ Depois de uns meses estudando, entendendo melhor as táticas, percebi o quão mágico e fascinante é o xadrez.

Consegui aprender e viajar no galope dos cavalos, nas dominações das diagonais dos bispos, na dependência do rei dos seus súditos, do atrevimento da dama ou rainha, do seu empoderamento, mandando e desmandando no reino. Também, vi no tabuleiro, um peão dando mate, se sentindo todo, todo. Essa é a magia do xadrez, as peças e suas funções, a força de cada uma, tudo num passo sincronizado e meticulosamente trabalhado.

Mãe, esse é o ambiente que o jogo de xadrez proporciona, algo bem diferente de outros esportes. Esse é o esporte certo pra mim.

_ Nossa, filho, falando assim bonito, até esqueço de que você só tem doze anos!

_ Estou amadurecendo, mãe. E isso, também, graças ao xadrez.

Pai, houve uma homenagem nesse torneio para algumas pessoas, e isso foi muito especial, principalmente ao menino anjo que deu nome a esse festival. Mas, isso, merece uma longa conversa, pois Arthur Galvão é e sempre será minha inspiração e referência para o xadrez e para minha vida.

Só mais uma coisa, pai. Pergunte ao psicólogo se ele tem um tabuleiro e as peças de xadrez para jogarmos, para que eu possa ir lá só pra isso.

_ Certo, meu filho, com seu relato tão lindo e impressionante sobre o xadrez, acredito que sua mãe e eu poderemos dormir melhor e em paz.

BETO CAPEL MOLINA
Enviado por BETO CAPEL MOLINA em 22/08/2023
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