Eu, as escadas e o verbo estar
Já pensou se você não for?
E se a metamorfose da vida só te leva a estar sempre se adaptando e nisso você sempre estará estando mas nunca foi, nunca esteve sendo?
Pois, eu subi a escada ofegante e percebi que a escada, sendo um objeto, deveria apenas ser. Ora, para nossa visão os objetos são imutáveis,mas a verdade é que eles também estão tanto quanto nós estamos. A escada permite que eu e outros tantos possamos nos deslocar, porque ela liga dois pontos. Eu subo degrau por degrau e sinto meus pés tocando cada um deles enquanto eu fico ofegante porque existem escadas que são muito longas. Como ela sempre é assim, logo, ela deve ser e esse é o âmago da escada.
No entanto, há de se pensar que como eu disse as escadas são, mas elas estão. Quando você passou por aquela escada em 2022 você era um e a escada era uma, quando você volta em 2023 sabemos que você já é outro. Mas a escada também é outra, ela perdeu material, ela sofreu com as impurezas, ela agora tem marcas e sujeiras, ela tem matos e uma parte está esburacada. A escada também só esteve esse tempo todo.
A ciência nos ofende com cada questionamento indispensável -como se as escadas são ou estão fisicamente e filosoficamente- que eu teria vergonha caso um leitor, em 2038, venha a ler o meu texto sobre os objetos que sendo matéria-prima (como todos nós), sendo concretos, sendo tocáveis e sendo eles, muitas vezes, obra nossa, não possuem nenhum significado poético... Ou científico... Ou sensível.
Eu espero que alguém entenda que esse texto é exatamente sobre escadas. Não há nenhuma metáfora. Escadas não sao metáforas, meus caros. E essa velha mania de escrever porque bate a vontade não deve confundir a mente ávida que lendo sobre escadas imagina analogias e hipertextos. Não imagine, nem fantasie que alguma vez eu disse que a vida é um curso em uma escada. A metáfora é só mais uma coisa que nunca foi e só esteve.