NOS TEMPOS DA TROVA (anos 80/90)
NOS TEMPOS DA TROVA (anos 1980/90)
"Trovar é pensar rimando" ou pensar "em 7 pés"... as sílabas métricas de cada verso. Mas se o caro jovem leitor nem imagina o que seja TROVA, certamente não saberá o que sejam "PÉS", ainda que conheça RIMA. A trova é aquela "quadrinha" dos tempos dos (nossos) tataravós... "batatinha quando nasce" ou -- mais elaborada -- "o cravo brigou co'a rosa / debaixo d'uma sacada: / o cravo saiu ferido / e a rosa, despedaçada". Ah, a "Terezinha de Jesus" também entra nessa "dança" !
Foi dessas "Cantigas de Roda" que se originou a TROVA, a quadrinha popular ficou esmerada com "rima cheia" (AB-AB) nos versos todos e não apenas nos ímpares, como no caso de sua "meia irmã". O movimento trovadoresco se intensificou a partir dos anos 40/50 do século passado, pelas mãos e esforço do poeta LUÍS OTÁVIO e, adiante, por trovadores paulistas, fluminenses e pelo escritor do Rio de Janeiro Eno Teodoro Wanke, entre muitos outros Brasil a fora. A atividade cresceu nos anos 60/70 do século passado, espraiou-se pelo Brasil todo, multiplicou-se em Seções e Filiais e deu origem a UBT - União Brasileira de Trovadores, suponho que criação do mesmo Luís Otávio, eleito patrono dos trovadores.
Naqueles tempos os torneios -- com o título de Certames -- entre cidades e Estados eram todos realizados através dos Correios que, aliás, prestigiavam tal atividade e até criaram vários selos alusivos à Trova e seus membros mais destacados. No tempo da máquina datilográfica cortava-se 1 folha ofício comum (de 24 a 29 cm de altura) e dela faziam 3 minienvelopes, com aba... na parte externa de cada um ía o poema (por vezes manuscrito) e, dentro, um papelote com o nome do Autor e seus dados principais. Jamais se soube de caso (em concursos) no qual esse singelo SIGILO foi quebrado.
Os temas eram os mais variados possíveis e, com 25 ou 26 Estados e centenas de "seções" e Filiais oficiais da UBT, imaginem a quantidade de trovas que percorria o país a cada mês. A princípio os certames estavam centrados em SP, Rio e Minas mas, adiante, combinou-se que a cada ano (ou semestre) uma Filial estadual da Entidade ficaria responsável pela realização de um Torneio NACIONAL. Curiosamente, num mesmo evento você podia participar do Nacional e -- sendo ele realizado em seu Estado -- também do Estadual. Havia uma categoria especial, aberta a todos, independente de região: a Trova Humorística, satírica, com grande liberdade de criação e que, ou usava O MESMO TEMA das trovas comuns daquele Torneio, ou se liberava a escolha do tema ao gosto pessoal de cada trovador.
Os torneios, em cada filial ou a nível nacional, enfrentavam todos o mesmo problema: indicar os jurados, os que íam JULGAR as trovas concorrentes... eles abriam mão de participar daquele certame, apenas para evitar terem que julgar (?!) seus próprios trabalhos. Jamais soube de prêmios EM DINHEIRO... dava-se belos Certificados, com sua trova impressa e a posição final dela. As filiais bem situadas produziam TROFÉUS, que eram enviados pelos Correios. Usava-se intensamente os Correios, alguns Certames tinham 200, 300 ou mais participantes, perto de MIL TROVAS no total... todos os concorrentes aceitavam o resultado final, nunca houve caso de contestação, era DIVERSÃO de damas e cavalheiros. E as mulheres, creio eu, seriam a maioria, ou perto disso ! Em alguns casos, trovadores viajavam a outros Estados para receber seu Troféu ou Diploma e conhecer outros irmãos de letras e ideais. Com o advento da Internet não sei como ficou esse MOVIMENTO poético tão antigo... será que ainda existe ?! Tomara que sim !!!
"NATO" AZEVEDO (em 20/agosto 2023, 22hs)
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EM TEMPO: num azíago dia de maio ou junho de 2009 vendi como papel velho 1.300 kg de jornais, revistas e livros acumulados em casa. Seguiu junto uns 6 ou 8 cadernos de poesias de minha lavra e, neles, perto de 600 trovas... não se perdeu grande coisa, era meu início como escritor, ou seja, muita vaidade e pouco conteúdo !
Ainda assim, sempre lamentei que alguns bons momentos meus na Trova jamais se classificaram, nem como "Menção Honrosa", espécie de "prêmio de consolação" de que não almejou conquistar um dos 3 ou 4 lugares sonhados por todos, pela maioria pelo menos. Puxo "a fórceps" da memória "cansada de guerra" algumas, ainda vivas no cerebelo senil:
Na escola a lição mais alta
é de sentido sublime:
dever deveres é falta...
faltar ao dever é crime !
(Não sei "se fiz escola", mas fui dos raros trovadores dos anos 90 a usar e abusar dos acentos gráficos, principalmente as reticências e o ponto de exclamação, coisa incomum na seara da Trova. Aliás. as ASPAS também !)
Num registro caprichado (*1)
em mil tons de "claro&escuro"
a foto é belo Passado
presente em nosso Futuro !
Engoli "sapo" e "pepino"
mas o fiz inconformado
que o que me deu o Destino
nunca foi do meu agrado !
O mestre está num dilema
e tem problemas daí:
-- "'Fessô, sei 'screvê PORBEMA...
u pubrema é qui 'squici" !
-- "Para enfeitar sua sala
me cortas pela raiz...
se a dor do fado me cala,
sou flor morta, mas feliz" !
Brilha o sol e os raios seus
me dão imensa alegria
pois sei que, graças a Deus,
eu mereço mais 1 dia !
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OBS: (*1) - esqueci o verso original !