Visitas de fim de ano



        Todo fim de ano, uma visitinha sempre aparece em minha casa. É o parente que veio de longe, ou o amigo querido que escolheu Salvador para passar o Réveillon.
        Muitos nunca estiveram  por aqui. E por isso enchem-me de perguntas sobre a Boa Terra. Não tenho dificuldades em lhes responder: a Bahia tem coisas que só a Bahia tem.
     Subir e descer as íngremes ladeiras de Salvador ; perambular por suas ruas estreitas e tortuosas; conhecer o Elevador Lacerda; rezar em suas centenárias igrejas; e até visitar o Senhor do Bonfim, ainda que Nele não acredite, é o sonho de milhares de brasileiros. 
        Como também, ouvir histórias como a de Catarina Paraguaçu e de Júlia Fetal, assassinada pelo namorado que, segundo a lenda, confeccionou uma bala de ouro para matar a amada, depois de ser por ela rejeitado. 
        Ouvir histórias sobre Jorge Amado, Castro Alves, Ruy Barbosa e Maria Escolástica da Conceição Nazaré, a Mãe Meninha do Gantois. De repente, ouvir boas músicas de Caymmi.
      Em minhas andanças por este mundo de meu Deus, quando digo que moro em Salvador, escuto, invariavelmente, esta frase: "Não vou morrer sem antes ir a Bahia."  
       Se isso - não sou baiano - me alegra, pense, o meu dileto leitor, no que devem sentir os filhos desta encantadora terra, nem sempre por eles bem cuidada. 

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        Para receber 2008, um casal amigo estará chegando por aqui, nos últimos dias do ano que agoniza. 
        Eles não conhecem Salvador. Nas últimas semanas, têm feito curiosas perguntas sobre a capital baiana. Respondo-as com a paciência de um beneditino. É gostoso falar da Bahia...
     No mais recente e-mail, perguntaram-me o que, de fato, "só existe na Bahia".  Fosse enumerar coisa por coisa, chegaria ao Réveillon de 2008 sem lhes mostrar tudo o que de peculiar a terra de todos os santos tem. 
     Sabendo-os excelentes garfos, optei em lhes falar um pouco sobre a extraordinária cozinha baiana.
        Tive, então, que lhes explicar como é feito o vatapá, caruru, xim-xim de galinha, efó, bobó, arroz de auçá, feijão preto doce; as moquecas de camarão, de peixe e de ostra; e as deliciosas frigideiras de siri e caranguejo.
     Falei-lhe, com prazer, sobre o abará e o acarajé, aconselhando-os a prová-los ainda no aeroporto, com uma cervejinha bem gelada. Bem gelada porque, em Salvador, se é dia, a gente chega nos braços do sol; se é noite, acariciado pela aragem morna do Nordeste. 
     Para finalizar, lhes fiz ver que não sou o primeiro a dizer que uma boa culinária, é o que só a Bahia tem.
        Afrânio Peixoto, um querido escritor baiano, já falecido, no seu excelente Breviário da Bahia, sentencia:

            " O que só a Bahia tem... Comidas, meu Santo." 

        Quem  achar que Afrânio e eu estamos blefando, que venha a Bahia, e viva, se é que assim posso dizer, intensamente, os sabores desta terra de inigualáveis quitutes... 

         
Felipe Jucá
Enviado por Felipe Jucá em 20/12/2007
Reeditado em 12/02/2021
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