O casal astral
Conhecia pessoalmente o casal. A moça do asfalto e o rapaz taciturno, apesar de ela não ser tão moça assim (tem quase 50 anos), e ele nem tão sério. Quando o Vasco ganha, coisa rara de acontecer, é aquela gozação generalizada que ele pratica em desfavor até de espiritistas.
Soube agora, por meio do jornal da vizinhança, que já não são um casal. São apenas a moça do asfalto e o rapaz taciturno. Dissiparam-se. Jazia um casal! Agora é cada qual à procura de seu qual, para lados opostos, o que até o mês passado era uma só direção.
Como diria Confúzio, "É lamentável". Era até um casal interessante, desses que costumam andar de mãos dadas; desses que cultivam interesses em comum, como o hábito de nomearem um ao outro com nomes simpáticos, como "Vida", "Amor"; desses que dizem reciprocamente "Eu te amo!" e "Bom dia!" mesmo num calor de 40 graus e em plena sexta-feira; desses que enviam mutuamente mensagens otimistas/amorosas diariamente, ao menos trinta vezes ao dia.
Quem os conhecia de perto não demorava para chegar à conclusão óbvia de que realmente pareciam um casal perfeito, se não fosse a questão dos signos...
Jazia um casal, e a culpa não é das estrelas. A culpa é do horóscopo. Desfizeram a relação por questão astrológica. Ele é Sagitário, ela Peixes. Resultado: incompatibilidade astral.
Jazia um interessante casal, e é importante esclarecer que foi uma separação de comum acordo, sem petição judicial, sem desavença familiar, sem palavrões excomungados. Uma separação unica e pacificamente baseada no horóscopo, que apontou incompatibilidade na posição dos corpos celestes no momento do nascimento e a personalidade. Uma prova de que, como diria Confúzio, “O homem não é nada além daquilo que o horóscopo faz dele.”