O AMOR Parte quatro
Acredito que meu ultimo texto sobre o amor não agradou a todos. Nem era esse o intuito. Mesmo porque o assunto em pauta é um tanto quanto espinhoso. Afinal, todos nós temos nossa visão particular daquilo que é certo ou errado em nossa vida. E, como já afirmei várias vezes, essa visão é única para cada pessoa. Não existem dois pontos de vista exatamente iguais para um mesmo assunto. Nem que seja em detalhes mínimos, microscópicos, sempre haverá alguma diferença. E isso é normal. Afinal, como já diziam os antigos, "cada cabeça, uma sentença"...
Existe, em nossa vida, uma vasta extensão de tipos de amor... e muitas vezes nos confundimos quando tentamos entende-los. Vou procurar listar alguns, que eu me lembro, embora haja muito mais tipos além do que vou relacionar...
Começamos com o primeiro, o mais importante em nossas vidas... afinal, sem esse, nossa subsistência inicial simplesmente não existiria... é o amor materno, é claro. "Ah, mas minha mãe é tóxica, nunca me deu seu amor", "minha mãe me abandonou ainda bebê, eu nunca a conheci"... e outras frases que a gente ouve durante a vida por pessoas que tiveram o azar de não ter uma boa relação com sua genitora em sua primeira infância... mas quem foi que disse que o amor materno é exclusividade daquela que, de uma maneira ou de outra, te deu a vida? Sim, eu sei que nem todas as mulheres estão preparadas para ser mães... e isso é da natureza. Por motivos mil uma mulher pode engravidar, dar a luz ao seu rebento e simplesmente o abandonar após o parto... mas até que tenhamos conhecimento do motivo que a fez agir assim, não devemos condená-la. Afinal, ela te permitiu nascer, não é mesmo? Quantas outras futuras crianças tiveram seu nascimento interrompido durante a jornada gestacional? Como dá para perceber, não é um assunto tão fácil de se discutir...
Mas estamos falando do amor maternal, não da mulher que, após o parto, abandona seu bebê... o amor maternal pode ser ofertado de mil maneiras.
Bem, a criança chegou a esse mundo e a mamãe a recebe com todo carinho, cuida dela, a protege contra tudo e contra todos, cuidando para que, na medida de suas possibilidades, sua cria tenha todas as condições para crescer feliz e saudável. Na medida de suas possibilidades, eu disse. Essa mãe fará o possível e o impossível para que seu filho ou sua filha cresça num ambiente feliz, procurando suprir todas as suas necessidades primárias. É claro que nem sempre é possível, mas com certeza não será culpa dessa mãe. Esse é o melhor de todos os mundos...a criança veio ao mundo e a mãe a recebeu de braços abertos, cuidando para que ela tenha toda a atenção que necessita...
Mas as coisas nem sempre são assim tão simples, não é mesmo? Existem milhares de possibilidades que podem impedir uma criança de usufruir do amor materno proveniente de sua genitora. E a possibilidade mais cruel é, sem dúvida aquela em que a Inominável, aquela que mais cedo ou mais tarde a todos visita, resolve levar a futura mãezinha no momento em que esta traz ao mundo seu maior tesouro... e então, o que será dessa criança? Ficará privada do amor materno? Claro que não...
Se essa criança conseguir ficar no seio de sua família original, mesmo com a falta de sua genitora, ainda estará bem, pois de certa forma sua mãe estará cuidando desta, mesmo que através de seus familiares. Mas a vida tem seus caprichos e muitas vezes essas crianças acabam sendo internadas em instituições especializadas em cuidar daquelas pequenas que, por um motivo ou por outro, foram privadas de sua família original. Então ela ficará sem os cuidados maternais? Claro que não. Primeiro será cuidada por profissionais que, mesmo recebendo por isso, darão a essa criança todos os cuidados necessários para que ela consiga vencer a primeira infância. Não é o ideal, mas é o que ela tem... além disso, ninguém dá amor apenas porque está sendo pago por isso... quem trabalha na área o faz porque realmente ama as crianças e procura cuidar o melhor possível destas... claro que algumas vezes esses cuidados ficam aquém do desejado, mas não por culpa destas, e sim pelas condições de trabalho, nem sempre a contento... um orfanato é um depósito de crianças a esperar por uma nova mãe, um novo pai? Muitas vezes, sim, mas não porque os profissionais que ali trabalham não cuidem das crianças como deveriam, e sim porque nem sempre conseguem os recursos necessários para fazer um acolhimento como desejado...
Bem... vamos supor que, depois de uma longa espera, essa criança consiga cativar um casal e seja adotada. Ela ganhou uma nova mamãe e terá todos aqueles cuidados que toda criança merece receber. E, ainda que leve algum tempo para se acostumar com a nova família, os cuidados recebidos farão essa criança amar seus novos pais de uma forma tão intensa....
Agora vamos falar de outros tipos de amor materno, está bem? A mãe está viva, cuida de sua prole, mas por um motivo ou por outro, não consegue ofertar aquele amor que a criança necessita. Ela até está presente, apenas não consegue ser a mão que acalenta o berço... essa criança vai ficar sem seu amor materno? Claro que não. Alguém em seu grupo familiar assumirá esse papel, com certeza. Os carinhos, os mimos, os dengos que normalmente receberia da mãe virão de outro membro da família. Pode ser do pai... tem muitos pais que dão mais amor materno aos filhos que as mães, mesmo que as pessoas não queiram reconhecer essa situação... pode ser a tia, o tio, muitas vezes a avó ou o avô (mais comum do que o desejável, nessa correria do mundo moderno)... não importa quem, mas alguém vai acolher essa criança em seu colo, dar beijinho em seu dodói, abraça-la quando a noite tiver sonhos não tão lindos, dar-lhe a mão quando ela estiver ensaiando seus primeiros passos na vida... sim, essa criança poderá até não se lembrar no futuro, mas mesmo que sua mãe, por motivos mil esteja impossibilitada de dar-lhe o carinho que esta merece, alguém cumprirá esse papel, não a abandonando em nenhum momento da sua vida, dando-lhe todo o amparo e apoio que ela necessitar para que possa crescer feliz e saudável e possa enfrentar a vida...