Crônica sem fim

Espia só!

Olha ele aprumando o corpo, ensaiando sorrisos. Estufa o peito menino; quase gritei! Estava ali sentado tomando um cafezinho quando o notei meio desajeitado entre os transeuntes. Ajeitava o cabelo, olhava o celular, conferia se o hálito estava em dia e olhava atentamente a cada ônibus que encostava no ponto, tudo sincronizado e repetido incontáveis vezes. Até eu já estava nervoso, ansioso para que ela chegasse logo e desse tudo certo. Não é este ônibus, não é este outro também,mas deve ser aquele lá atrás... Assim o tempo foi passando e eu ajudando a torcer para ser o ônibus certo. Ele inquieto,repetindo seu ritual e eu pedi mais um café e pão de queijo para aguentar a tensão.

Menino novo,uns 15 anos talvez, vestido com roupas limpas e simples,tênis surrado e limpo, celular simples, mas o encanto do amor era perceptível, intenso, eufórico , chama viva, labaredas de um querer ser no outro e não a mesquinhez de ter o outro em sua posse. Olhei e vi o encanto se espalhando, já não era só eu que estava olhando. Trinta e sete minutos, vários ônibus depois e nada dela ainda. Ele insistente,conferindo cada etapa do ritual ininterruptamente;.

No tempo que o tempo não ousou medir, ela desceu do ônibus flutuando,sorriso largo, olhar macio e eles fugiram do mundo num abraço gostoso. Ele meio desajeitado, ela sorrindo e acariciando seu rosto. Sim, ela acabara de chegar nele e ele já estava nela. Saíram sorrindo, ela falando e ele meio trêmulo. Sumiram da minha vista, não os via mais, mas quem disse que essa crônica tem fim? O amor é início, meio , eternidade.