Voltei? Acho que sim.
Há tempos não escrevia.
Pensando bem acho que nem sei usar uma caneta mais, matei o hábito de escrever manualmente também.
Essa doença desgraçada faz com que matamos tudo o que nos faz bem. Paramos de fazer o que é gostoso, o que nos alimenta, lubrifica, rejuvenesce, perdemos o brilho murchando um pouquinho todo dia. O corpo levanta da cama mas a energia fica nos lençóis.
As juntas encruam, a flexibilidade diminui, tudo dói! O avanço da idade nos rouba a outra parte: a boa por sinal, a certeza antes que ainda tínhamos tempo.
É um toma lá dá cá sem fim. Pra continuar com suas atividades básicas é necessário que outras atividades sejam adicionadas de forma obrigatória...uma chatice! Eu acho.
Tenho 37 anos. Mas sinto-me com 75. Não pela idade...imagina! Não é essa a questão.
É a desesperança de ter tempo pra mudar. Começar agora? Deixa eu esfregar primeiro os olhos aqui e olhar esse caminho longo de novo.
Estou numa redoma e ela me acompanha... o mundo perdeu a cor, as pessoas estão cada dia mais más, uma puxação de tapete, um ódio desmedido, desespero por mais e mais dinheiro, tudo é urgente, aliás, tudo é emergência...uma loucura geral.
A vida é um filme e só eu não tinha entendido, foi passando sabe...vivi a transição para o mundo tecnológico, e sim! Foi bem legal! Ainda peguei o disco de vinil, a fita cassete e o CD antes do mp3 e etc (pra mim toda atividade tem que estar integrada com música, mesmo agora escrevendo) as gerações de celulares, redes (nada) sociais, criação dos aplicativos e os meios de comunicação que hoje considero uma praga!
Todavia posso dizer que me dei o privilégio de ter o controle da minha vida! Atendo dentro das minhas possibilidades, fico semanas sem me comunicar...gosto da pessoa me ver em agonia, que queria falar comigo como se o mundo fosse acabar amanhã, mas não vai!!!! Não estou num pronto-socorro, a vida ou morte das pessoas não depedem de mim (e que elas agradeçam por isso). Não é sadismo, se for realmene urgente atenderei a ligação normalmente dando prioridade para aquilo que é prioridade.
O tempo para mim é uma preciosidade e aprendi a usá-lo ao meu favor. Ansiedade não se cria nos meus lombos, depois de ter sido sugada pela sociedade, pelo trabalho; via e ouvia muita cobrança, briga ao derredor e pensava comigo mesma “mas se a tecnologia é pra facilitar a vida por que essa dificuldade?”
Porque as pessoas são demasiadamente intolerantes.
E não há nada de novo nisso...nova era eu, crua e inexperiente.
O mundo mudou e não há o que fazer. É chato...tá superficial... queria mesmo era ter visto o trailer antes...quando adolescente busquei, sonhei tanto! A maioria realizei a penas duras, como todo cidadão, eu sei.
Mas hoje peço a Deus somente saúde e que mantenha os meus sentidos pelo máximo de tempo que ele puder, para poder tomar meu café bem quente e forte, ouvir as minhas músicas (as que abrem as memórias na minha cabecinha) ler meus livros, rindo sozinha e bem alto! Escrever um pouco sobre minhas ruminações, sentir o perfume que gosto ( porque perfumar-se é um ato lindo de amor próprio) e lembrar do beijo do amado, do doce da infância, dos amigos que partiram, das risadas deliciosamente genuínas que tenho com meus sobrinhos...viver a vida de forma espartana, com poucos excessos. Não quero mais me matar por nada!
Se custa a minha paz, custa caro demais.