O nada detrás dos meus olhos
Ser ator é um exercício que vai além do dom.
O artista apresenta o seu inverso.
Fazer arte é apresentar de forma equilibrada o nosso avesso.
O burilamento da nossa essência nos faz sentir as profundidades das sensações.
Tornamo-nos uma tela onde a arte pinta o corpo da nossa alma.
O artista transcende as barreiras do ser, do existir, do viver...
O artista deixa de ser para viver as infindáveis possibilidades.
O eu escorre pelo ralo da hipocrisia, ficando o sobrenadante de um todo a translucidar.
A arte nos faz enxergar as cores da alacridade.
Fazer arte é ir além da arte que se vê.
É um grito que ecoa do nosso eu, cercado por uma multidão que lamentavelmente avança no olho da solidão.
A arte arrebata os seus eleitos.
Os verdadeiros artistas se imergem no nada, ressurgindo do tudo que complexamente fecunda as artes.
A arte esmaga a hipocrisia, dilacera o preconceito, sufoca os padrões, assassina o eu.
Não quero fazer arte, quero ser a própria arte