PORQUE INSISTIR COM A IGUALDADE?
Nem sei bem porque resolvi escrever sobre esse assunto. Sim, agora me lembro! Ouvi Dona Herda dizer que “sendo diferentes somos iguais” ou algo bem parecido com isso, pelo menos quanto ao sentido da frase. Dona Herda acha que está “tudo junto incluído, uma vez”. Diz isso com seu inconfundível sotaque germânico. Pois não é que não somos! Somos todos diferentes. Não há nada igual na natureza, e tudo o que existe nunca acabará, nem terá um fim; o que parece ser o fim é apenas o começo de uma outra etapa. Mesmo que esse nosso planeta – ou tudo o que há no universo – desapareça, o que dele sobrar, e sempre sobrará, resultará em alguma outra coisa diferente.O que resulta difere do que lhe deu origem.
Somos diferentes em tudo. Seres humanos, somos únicos, próprios, exclusivos e inigualáveis. Ninguém se compara, nada se compara. As comparações são julgamentos terríveis sobre as qualidades, as competências e as aparências das coisas, dos animais e das pessoas. Tem gente que faz comparação com tudo. Não se contenta com as diferenças; há que fazer comparações para saber se é melhor, se presta, se pode, se deve, se consegue; se toma uma decisão.
E não é só isso. Tem hipocrisia escondida atrás das igualdades dos diferentes.
- “Somos ricos, poderosos! – proclama Rufião I. Temos a maioria das propriedades, controlamos o dinheiro e as mentes do povo. Porém, como seres humanos, somos todos iguais”.
Claro que sim, mas só quando somos comparados pelo que é comum a todos os seres humanos. Temos todos duas pernas, mãos, orelhas, pés e tudo mais que nos dá esse formato único. E mesmo assim somos diferentes; os magros dos gordos e os baixos dos altos e os negros dos brancos e os bonitos dos feios. E há os bons e os maus, os honestos e os larápios. É aqui que começa a grande diferença; a que nos torna exemplares racionais. Indivíduos sem comparação. Não comparem, pois. Os maus são diferentes dos bons e desses devem ser afastados; e banidos, se possível, pelo combate permanente até que sejam eliminados.
“Diferentes somos iguais” é uma alegoria torta e cabeluda, mas que, ainda assim, convence muita gente, certamente. Prefiro a lógica desafiadora da convivência com os contrários. Dá mais trabalho, sem dúvida, mas é mais honesto agir assim.