Naquela Mesa
ACHO que aqueles que generosamente leem as minhas arengas já notaram que, não raro, me refiro ao meu pai, o homem que mais admirei / e continuo admirando - pela honestidade, coerência, coragem, bondade e ternura (esta ele tentava esconder mas não conseguia). Meu pai era comunista e espírita . Juro. Não me tornei comunista e nem espírita, embora tenha assimilado alguma das suas ideias e um pouco de sua crença. Mas de meu pai herdei muito da teimosia e da coerência, também muito da sua ternura e honestidade. Algo ele não conseguiu me dar ou legar: bens e dinheiro. Mas me legou uma herança que me orgulho de ainda preservar e que sempre revê-lo usando um verso de uma música de Lupiscinio Rodrigues: “A vergonha foi a herança maior que meu pai me concedeu”. Um tesouro arretado.
Recordo com os olhos marejando os almoços com ele no dia dos pais na nossa casa. Ele recebendo presentes dos filhos, sempre afirmando que não precisava mas satisfeito com a lembrança de cada um de nós. Era uma festa igual a do seu aniversário. Pai sofreu muito antes da sua partida. O motivo da piora da sua saúde foram as prisões políticas, principalmente a última quando golpe militar de 64. Os problemas de saúde se agravaram e ele, repito, sofreu muito.
Todos os dias recordo o meu pai, quando acordo olho para a sua foto na parede do meu quarto. Sempre recordo uma cena do passado. Isso retempera minhas forças e me dá alento para seguir em frente. Só não posso ouvir toda a música “Naquela Mesa”, de Sérgio Betancourt, na voz de Elizeth Cardoso (cantora que ele admirava), quando ela canta o verso, “Naquela mesa tá faltando ele, e a saudade dele tá doendo em mim…”, eu choro muito.
Que saudade de meu pai, o major Wilson Porto. William Porto. Inté.