MIA COUTO ESTÁ DOENTE
Mia Couto está doente. Há três dias não come, bebe água porque coloco em sua boca a cada duas horas, com uma pipeta, e quase não se levanta para nada. Fica tão triste e amuado que a gente fica com pena. Tão bonito e peludo esparramado na cama e não quer sair da posição. Ontem passou o dia amuado, com aquela cara de escritor que não encontra o fio da meada para finalizar o conto. E eu ali, do lado, fazendo o melhor que posso para ele se sentir mais confortável. Por vezes ele me olha com uma tristeza no olhar que dá pena.
Hoje eu o levei à clínica, mesmo sem o seu claro consentimento. Mas ele foi assim mesmo e, chegando lá no consultório, com a atenção carinhosa da bonita doutora, ele até ficou meio pimpão, meio assanhado. Deixou que ela dele cuidasse, sem fazer alarde. Não se incomodou nem quando ela mediu sua temperatura colocando o termômetro em seu ânus. Ela disse ser o melhor lugar de se conseguir uma boa medida de sua temperatura. Safadinho, esse Mia Couto.
Passou por uma batelada de exames sem fazer cara feia. Só não gostou das duas agulhadas: primeiro para tirar uma amostra de sangue, depois para tomar um soro hidratante. Mas na hora das agulhadas aproximou a cabeça do meu peito, assim com alguém desamparado pedindo com os olhos para tirá-lo logo de lá.
Consulta feita, diagnóstico ainda não conclusivo e esperando os resultados dos exames, chegou a hora de pagar. Putz, consulta, mais exames, mais remédios, mais um patê para melhorar a imunidade, tudo isso ficou em quase quinhentas pratas. Tratar de um gato sem raça definida, como Mia Couto, é mais caro que tratar de gente. Que absurdo!
Paulo Cezar S. Ventura (pcventura@gmail.com - @paulocezarsventura)