A Primeira Invasão de São Luís do Maranhão

Quem nasceu depois de 1950, com certeza não viu ou não conhece a história. Mas, até esse tempo, quando a gente descia o Caminho da Boiada (como era denominada a descida da atual Rua das Cajazeiras), o único itinerário a seguir era pegar a Av. Senador João Pedro e desembocar no Canto da Fabril, que era ponto de conexão com os bairros e subúrbios de periferia como Areal (atual Monte Castelo), João Paulo, Anil, etc. Em linha direta com o Caminho da Boiada só existia mato – uma verdadeira floresta – que, inclusive, se limitava com a frente e o lado direito do Estádio Nhozinho Santos. Eu morava na Vila Passos e era, portanto, vizinho e frequentador habitual desse paraíso florestal.

Era ali – oh, se me lembro e quanto! – que eu, menino de calças curtas e dado a longos passeios por matas e lugares ermos - fantasiando histórias e incorporando heróis dos gibis, tipo Tarzan, ou personagens cantados nos versos de Gonçalves Dias, tipo Juca Pirama – vinha viver longas e despreocupadas tardes no meu particular mundo de sonhos e esperanças. Aquela mata era farta de árvores que produziam frutos comestíveis como manga, caju, sapoti, piqui, amêndoa, ingá, maria-pretinha, etc., de modo que o meu apetite enorme pela fantasia interior era correspondido pela ingestão de muitas frutas colhidas sem muita dificuldade.

Até que - por Deus e cem milhões de diabos! - chegou em São Luís a febre de invasões. Alguém – um sem teto ou um desmatador imbecil – construiu um casebre no meu paradisíaco mundo particular e foi o estopim, o Deus-nos-acuda para novas construções, novas demarcações! Pessoas passaram a disputar palmo a palmo o terreno invadido, e a invasão se consolidou. A nível internacional, travava-se a Guerra da Coreia entre americanos e norte-coreanos comunistas e logo a ironia popular batizou a invasão com o nome de Coreia. Toda essa extensa área é hoje a Coreia de Baixo e a Coreia de Cima superpovoadas. Mato? Não sobrou nem para mosquito!

A primeira invasão habitacional de São Luís invadiu os meus primeiros sonhos...

Santiago Cabral

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