ÁGUAS VERMELHAS



A tendência de tudo nesta vida é "passar", como passam as horas. Passam as chuvas, as nuvens, as estações, ondas no mar...Passam as carroças e seus cavalos magros e suarentos, os cachorros com seu olhar triste, as prostitutas velhas e cheirando a naftalina...a batina do padre furada pelas traças... Tudo passa. A dor de barriga, o homem que vende bilhetes [olha a borboleta!], a mulher que pede esmolas, o irmão que vai embora, o amigo que se casa... A faculdade que termina, a briga que se acaba, o pão que amolece, a fruta que apodrece, a boca sem dentes, o sorriso sem graça... Tudo nesta vida é passageiro, assim como viajantes de um trem, passageiros de um avião, de um balão, de um sonho... Passam as risadas, a pele macia, as pétalas das rosas, o silêncio dos olhos, a fome da barriga, a sede das bocas... Só não passam as águas vermelhas... águas paridas em sofrimento, rasgando, abrindo as entranhas da terra, vertendo em jorros, escorrendo, tingindo meus olhos deste vermelho sangue...
Luciah Lopez
Enviado por Luciah Lopez em 20/12/2007
Reeditado em 18/08/2009
Código do texto: T785947
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2007. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.