Ideia desastrada a escolas no Sul
Tudo que se escreve é escrito para ser lido. Assim, vivam os livros. Concluí isso, desde as aulas do Professor Padre Eduardo Hoornaert, que, chegando da Bélgica para ensinar, de 1958 a 1964, no Seminário Arquidiocesano da Paraíba, deu-me excelentes aulas sobre a Pedra de Roseta, cujos hieróglifos e palavras em grego arcaico ajudaram à compreensão dos remotos estudos da Egiptologia. Nem o tempo e outros interesses obstaculizaram a leitura dessa pedra, seu texto-decreto se promulgou na parede, para que soubessem as realizações do Faraó, e como se render culto a Ptolomeu V Epifânio. Depois de descoberta, a Pedra de Roseta sofreu disputa, entre guerras e conquistas, e hoje, desde 1802, continua exposta no Museu Britânico, para ser lida. “Sua decifração se completou por Jean François Champollion”, assim nos disse o Professor Eduardo, como consta em livros e no meu então caderno de anotações, que preservo desde 1962.
Pedras assim, há muitas pelo mundo, inclusive em Ingá, ao lado do rio Bacamarte, com escritos livres à leitura, mas, segundo Vavá da Luz, seu zelador, “quem lê, até hoje, não pega o que lê”... Depois, disse o Professor Eduardo que os egípcios, para escrever, recorreram ao papiro, feito dessa planta, colhida às margens do Nilo. Desde então, a leitura do que se escrevia se recomendava sobre o que era guardado nos arquivos e também em algumas bibliotecas, das quais sobressaiu-se a Biblioteca de Alexandria, com preciosidades filosóficas e literárias.
Desde os tempos mais remotos, os livros sofreram perseguição, de ordem política ou religiosa, como o caso do famoso “incêndio” da Biblioteca de Alexandria. E, dando um salto na História, lembro as fogueiras da Inquisição ou as da violência do nazismo, do fascismo, dos antidemocráticos... Aqui mesmo, na nossa terra, no período de repressão, muita gente foi presa ou perdeu o emprego porque, na sua casa, encontrou-se livro, intitulado Karl Marx, mesmo que, no seu miolo, existisse crítica ao marxismo...
Proliferaram-se os livros, as bibliotecas, escolas com livros e provérbios, exaltando que sem ler, não se aprende escrever, acrescento também falar; ou que a leitura propicia novos pensamentos, outras ideias e criativas imagens. De um livro se escrevem inúmeros roteiros para filmes. É verdade, cheguei a discursar, no Centro de Educação, da Universidade Federal da Paraíba, aos Concluintes, que o livro está para o educador, assim como a madeira está para o marceneiro...
Quanta literatura sobre o infeliz palpite de que o livro desapareceria; quantas conversas com Gonzaga Rodrigues contra essa desgraçada profecia, na Biblioteca da APL, que tive a honra de soerguer nessa Academia Paraibana de Letras. No entanto, tristes ficamos, quando o dirigente da Educação, em São Paulo, decreta um “não” ao livro para estudantes da rede pública de ensino, acima da 6ª Série. A partir de então estaria suspensa a aquisição de livros, substituídos por tablets ou outras bugigangas eletrônicas. Ideia desastrosa, e de repente, o Secretário atribuiu aos “técnicos” a autoria da má iniciativa. Ouvindo reclamações de educadores, dos que sabem a significância do livro, ou dos que, com moderação, pensam e discernem os avanços da tecnologia, o governo sensatamente recuou. Contudo, a compra de tais equipamentos continuará: os alunos vão receber os dois, tablets e livros, mesmo que a maioria deles, sem recursos, não possua internet em casa. Nesse aspecto, o livro supera esse problema... En passant, bendita a recomendação da Unicef, sobre a aprovada proibição de celular em sala de aula.
Cervantes, em Dom Quixote, avalia: ”Não há livro tão mau que não tenha algo de bom”. Valem os bons, bem preparados pelos educadores e pedagogos às crianças e jovens das nossas escolas! Tomás de Aquino admoestou: Timeo hominem unius libri ou “Temo o homem de um livro só”. Imagine-se o de nenhum...