Perfídia
Era uma manhã ensolarada em uma pequena cidade do interior. O sol acariciava as flores alegres que colorem as calçadas de paralelepípedos desse lugar bucólico e tranquilo. Porém, a tranquilidade era apenas uma ilusão que encobria as complexidades dos relacionamentos humanos. Nessa mesma cidade, em uma rua estreita e pitoresca, uma traição estava prestes a ser revelada. Margarida, uma jovem e bela mulher, com longos cabelos dourados e olhos tão verdes quanto as folhagens da primavera, vivia uma vida aparentemente perfeita com seu esposo, Alfonso. O casal possuía uma casa aconchegante, um jardim bem cuidado e o amor que sentiam um pelo outro era inegável. No entanto, no privilegiado mundo em que viviam, as aparências enganavam.
Alfonso, um homem charmoso e bem-sucedido, encantava a todos com sua postura elegante e sorriso cativante. Por trás dessa fachada, havia um vazio existencial que o impulsionava a buscar preenchê-lo de todas as formas possíveis. E foi numa dessas incansáveis buscas que ele se envolveu com Beatriz, que era uma mulher enigmática e sedutora. Com seus cabelos negros e tatuagens misteriosas, ela emanava um magnetismo que atraía todos ao seu redor. Desprovida de moralidade, envolvia os corações mais frágeis em sua teia de decepções. Mas, por mais sagaz que fosse, ela não previa o cataclismo por vir.
E foi nesse cenário turvo que o destino cruzou os caminhos de Margarida e Beatriz. Por acaso ou ironia cósmica, as duas se conheceram em uma exposição de arte local. A conexão imediata entre elas foi avassaladora, especialmente para Margarida, cujos instintos nunca haviam falhado em julgar o caráter das pessoas.
Conforme o relacionamento com Beatriz se desenvolvia, Margarida sentia uma necessidade crescente de compartilhar sua descoberta com Alfonso. Era um misto de fidelidade e medo de perdê-lo, mas a verdade é que ela temia mais pelo que estava por vir. E a traição que percebia da parte de Alfonso tornava-se apenas uma parte trágica do enredo. Com o coração angustiado e a mente tomada por dúvidas, Margarida decidiu confrontar Alfonso antes de tudo ser derrubado pelas mãos reveladoras do destino. Ela esperou um momento a sós, com a respiração ofegante e os olhos marejados, e enfrentou o marido com a pergunta que lhe corroía a alma.
Ao ouvir suas palavras trêmulas, Alfonso sentiu um nó na garganta, os olhos buscaram desesperadamente uma desculpa, mas sua traição havia sido descoberta e já não havia espaço para mentiras. O silêncio que se seguiu era ensurdecedor, um abismo emocional que marcou o fim de uma suposta felicidade. "Nossos reencontros nunca serão os mesmos", pensou Margarida enquanto as lágrimas corriam por seu rosto em desalento. Ela via o horizonte tomar tons amarelados e a calçada de paralelepípedos, antes tão charmosa, roubava-lhe toda “joie de vivre”. A sensação de traição era como uma cicatriz funda e permanente em seu peito. E assim, as marcas da traição impregnaram-se profundamente na vida de Margarida, que decidiu reconstruir sua história a partir desse doloroso episódio. Com força e coragem, recolheu os pedaços quebrados de sua alma e renasceu como uma nova mulher, pronta para enfrentar as adversidades do amor.