DUAS PALAVRAS SEM RIMAS (crônica)
Todas as palavras ao escritor são especiais. Elas devem ser usadas com o maior respeito, pois farão parte dos sentimentos despertados pelos escritos. Com os sentimentos das pessoas não se brinca. O correto é fazer com que as palavras tenham moradas nos corações e almas e não em dicionários. Aos dicionários que se dê a função de lembretes e nada mais. Eles armazenam tais lembretes, mas não têm sentimentos.
As palavras, todas, tem uma peculiar participação em nossas vidas. Ora são amorosas e sentimentais, ora são maldosas mesmo que temporariamente.
Confrontei-me com duas palavras que se tornaram rebeldes e decididas a me perseguir durante um tempo, sendo maldosas e sem rimas. Eu estava em guerra contra os efeitos colaterais do amor pelas guerreiras chamadas sras. Amava e Saudade, pretéritas e imperfeitas que se uniram parecendo carrapatos a me perseguir. Nas minhas tentativas de amar elas grudavam dilacerando-me com forças intempestivas. E um dia, à beira da dor e depressão irreparável por amor, descobri que tenho o direito de me enfrentar no meu espelho e, cara a cara com malgrados sentimentos, indaguei-me ser um homem ou saco de batatas? Não nego ser saco de batatas diante dos amores vividos e continuarei, sem remorso, àqueles que vierem. Porém, nunca me escondi nas entrelinhas dos sofrimentos e sempre fui adiante: Amores novos encontrei, não os decepcionei e ou brinquei, correspondendo-me corretamente enquanto existiram em minha vida.
Procurava por alguém à uma solidão. Gradativamente, encontrei namoradas e a sra. Amava rendeu-se, deixando-me aos poucos, despedindo-se como uma nuvem perdida na imensidão dos meus céus e pelas correntes de ar dos meus pensamentos.
Todavia, a sra. Saudade permaneceu...
Nada judiciosa comigo...
Pouco se importando comigo...
E, a um sentimento enraizado na alma, restou-me rezar.
Até que, naquele dia que nos serve de lição, numa vitrine a salvação apareceu. Pelo reflexo do vidro eu a vi linda como outrora. Até mais. Sim! estava mais linda, feliz e tranquila, expressando o sorriso que pensava ser-me exclusivo. Demonstrava amar alguém ao seu lado e se sentindo bem. O tempo enxerido tratou de parar diante da minha visão. Deduzi que a perseguidora sra. Amava tinha encontrado, na mulher que amei, o merecido refúgio atuando-se presente e afirmativa. E, diante da marcante liberdade que nela pairava, decidi que poderei gritar, doravante, que amarei, novamente, sem culpas e remorsos por ter sido o culpado pela despedida...
A partir do precioso momento em que a vi feliz com alguém, a sra. Saudade malvada e perseguidora tomou rumos levando nas malas os meus martírios e, finalmente, deixou-me livre; também!