À moda Adélia Prado
A prenhez das palavras (plurissignificância) me assusta. Quer dizer, "assusta" não é exatamente o que eu queria dizer. Um termo/verbo mais adequado seria "impressiona".* Por exemplo: passei algumas páginas de "A Última Sessão de Cinema", de Ronald Claver (edição de 1997), e li o título do primeiro capítulo, intitulado "Esperando Godofredo". O gerúndio (uma das três formas nominais – as outras duas são o infinitivo e o particípio) aqui remete àquela clássica peça de Beckett. E uma das interpretações mais interessantes sobre o texto é que o tal Godot seria Deus e seu eterno ato de "tratar" e jamais aparecer. Deixando sempre o ser humano à sua própria sorte, a esperar Godot. (A peça é de um peso (uma importância) terrível; sua crítica a esse tratar e jamais aparecer nos faz refletir sobre nossa esperança num ser sobrenatural enquanto perdemos ela em nós mesmos. Mas... Voltando ao título dessa crônica... A prenhez das palavras me impressiona muito. Esse "esperar" me faz lembrar de muitas coisas. E essa espera é eterna. (Eu não sei o que esperar dos outros; preciso mesmo é esperar apenas de mim).
Nota
* O que porventura houver de A. Prado nesse texto encerra-se aqui.