Minha vida no País das Maravilhas
A vida não é o que queremos que ela seja - e está tudo bem. Fazer o quê, né. Eu sei que a minha vida não é nada daquilo que eu queria ou pensei quando era uma criança tão ingênua de que tudo o que queria o cara lá de cima ia me dar (pega a referência, noventinhas) - e acho que é melhor eu e todo mundo nos acostumarmos logo e abraçar a realidade. É leviano achar que temos qualquer controle sobre alguma coisa - spoiler: NÃO temos! Podemos ter as melhores intenções, possuir nossos ideias, planejamentos que soam lindos e organizadinhos, mas que não passam de utopias do País das Maravilhas da Alice (eu adoro essa história). A vida é além disso em tudo - o mundo está cheio de sofrimento, injustiças, processos difíceis, angústias, ansiedade, tristezas… há um lado bonito da vida, mas o lado feio pode assustar um pouco os desprevenidos.
Acho que por isso eu sempre evito vê esses coachs que trazem uma positividade (tóxica). Me irrita. Eu sou o tipo de pessoa que é pessimista/realista com os dois pezinhos no chão, mirando o copinho meio vazio na minha frente. Porque essas palavras bonitinhas de que a vida é boa, que se deve agradecer sempre, são palavras bobas e estão distantes da realidade palpável. E, acredite, a vida real sempre faz questão de esfregar a sua cara no chão mostrando que ela não é só um rostinho lindo.
Soa um pouquinho pessimista, né. Mas é isso. Eu acho até engraçado pensar que a gente, que enfrenta o mundo real todo dia, pode se distrair da realidade ao se apegar a ideias irreais. A gente costuma se distrair com redes sociais, filmes, livros, ou trabalho, afazeres domésticos, relacionamentos, para evitar sentir num mundo que muda tão rápido e não nos dar tempo de reagir como deveríamos. Não à toa, quando menos se espera, passamos a agonizar a ideia de que o sofrimento não está tão longe e que precisamos aprender a atravessar as adversidades.
Caímos no pensamento de que para se viver uma vida perfeita tudo precisa sair como gostaríamos: todos precisam ser de um jeito, agir como agiríamos, falar o que queremos ouvir, ter comportamentos que você espera e de que a vida não pode ter imprevistos - e que estamos sujeitos por sermos humanos - o que nos faz ter ou uma dissociação da realidade, porque a realidade não bate com a idealidade ou pavor constante da realidade. Nós não sabemos viver a vida real sem deixar de temer a quebra da expectativa, porque viver foge do ideal que imaginamos - seja pelo tempo de duração de algum processo, seja pela comparação com os outros, seja por uma visão distorcida graças às mídias, etc.
É, precisamos aprender a viver, queridos. Não há como fugir disso. Nascemos neste mundo para fazer alguma coisa com essa oportunidade que nos foi dada. E quem diria que esse seria o nosso maior e eterno processo? Quem diria que esse aprendizado seria a escola que iríamos dia após dia? Quem diria que essa constatação nos traria uma vida alegre e leve e uma aceitação com o sofrimento que advém de viver? Quem diria?
Eu me perco constantemente nos meus ideais e de como eu queria que a minha vida fosse. Meu quase espelho me perguntou o que exatamente eu não gosto da minha vida, porque eu falo como se tivesse sido jogada na minha vida, e não como se eu tivesse feito escolhas que me trouxeram até aqui. Bem, eu não sei o que responder. Não acho que minha vida seja ruim. Minhas escolhas que fiz me tornaram o que sou hoje, que é um ser em construção, mas não é de todo ruim.
A verdade é que penso muito, idealizo muito, queria viver no mundo da Alice, mas eu uma garota adulta que precisa aprender a viver de verdade. Descobrir quem eu sou, o que eu gosto, o que não quero, o que e quem eu amo. Contudo, não é fácil, é um processo árduo, mas vale a pena por nos trazer uma plenitude - que faz a gente perder o pouco controle que tem e é ótimo. Esse processo é que decidi abraçar. É o que vai me levar ao amadurecimento físico, emocional e, quem sabe, até transcender. Acredito que pensar assim, que o meu processo de descobrimento, que será bem longo, tem sido um bom pensamento. Saber porquê estou abraçando meus processos difíceis é saber o motivo pelo qual estou escolhendo viver meus dias… Não se engane, saber disso não o torna mais fácil, todavia, de alguma maneira, o torna mais leve e certeiro.
Enfim, minha vida está uma bagunça, com seus tons de cinzas, mas é quem sou, faz parte daquilo que ninguém pode fazer por mim: liberdade de escolher qual atitude ter em qualquer circunstância da vida. Sei quais batalhas quero e vou travar por enquanto. Escolho ser mais paciente e resiliente como o meu processo. É a minha missão a cumprir nesse mundo.