Uma data especial
Hoje passei o dia pensando em alguma coisa, e não me lembrava o que era.
Sabia que hoje era um dia diferente, mas a correria não me deixou lembrar.
Estou escrevendo todos os dias desse mês, e queria escrever hoje , aliás me preparei para isso, mas o tema estava fugindo de mim.
É uma data marcante, estava me sentindo mal por não lembrar.
Num estalo de memória, olhei no celular e a data 09/08, descobri!
É o aniversário da minha vó!
Já tem 21 anos que ela não está mais aqui. Coincidência ou não foi numa quarta-feira, que eu vi e conversei com ela pela última vez.
Sentada no banco, em frente aquela horta linda que ela tinha.
Quando ela passou mal, e foi internada, após sete dias ela morreu. Eu tinha só 12 anos, assumi a responsabilidade de cuidar da horta dela, todos os dias. Molhando de manhã e a noite,e capinando quando precisava. Senti que as plantas sentiram a falta dela, talvez tanto quanto eu.
O cãozinho de estimação dela, ficou sem comer por quase uma semana.
Dediquei tanto tempo aquela horta, que todos que vinham na casa dela, olhando a horta, lembravam da minha vó.
Eu não gostava de plantas, passei a gostar dali em diante. Surgiu uma paixão por plantar.
Lembro que minha avó conversava com as suas plantas, isso eu não aprendi. Aliás gosto do silêncio e da paz que as plantas me proporcionam. Sou amante da reflexão, e o silêncio é um meio pelo qual refletir.
Tive um professor de física, saudoso Fineli, que falava que quando estivesse com raiva era só eu ir cuidar das plantas que passava. Ele era um grande amigo.
As pessoas certas aparecem na hora certa, hoje eu sei disso. Sempre que alguém foi tirado da minha vida, Deus enviou outras boas pessoas para completar o lugar.
O tempo passa, mas as lembranças permanecem por muito tempo. E voltam de vez em quando, as boas e as ruins, como borboletas que pousam de forma aleatória.
Meu pai sente mais a falta da mãe dele no dia das mães. Já eu tenho a memória voltada para datas de nascimento e falecimento. É o meu jeito de lembrar. Meus familiares é que me perguntam quanto tempo alguém da família já faleceu, quem faz aniversário nesse mês. Virei uma referência, nem sempre muito animadora, mas todos sabem que eu sei exatamente o dia.
Alías ainda mais intrigante, eu lembro da localização dos túmulos dos meus avós. E sou o único que ainda vai visitar às vezes. Não consigo falar nada, apenas faço um oração e vou embora.
Não consigo segurar as lágrimas quando visito o túmulo da minha avó. Ainda me faz muita falta. É uma ferida que não cicatriza.
Acredito que meus avós não podem ser esquecidos, lembro e ainda conto as histórias deles para a família e filhos.
Sou um contador de histórias, e gosto disso.
E as vezes a história acaba assim, sem final feliz.
Mas sempre teremos coisas bonitas pra contar.