Sobre a solidão, essa assassina.

O que fazer da solidão? Ou eu a mato, ou ela vai me matar. Mas nós duas juntas já não nos damos bem.

As horas vão passando lentamente, olho no relógio a cada instante para ver se meu amor está chegando. Enquanto isso me distraio, com as letras, os livros, a língua portuguesa e as bobeiras da modernidade.

O que fazer da solidão se o trabalho leva quem eu amo por horas?

Ou eu mato essa atrevida, ou essa atrevida me mata. Aos poucos, a cada hora sozinha, o coração bate mais lentamente.

Vou tentando fazer da literatura minha maior companhia, mas ela anda meio longe, não estou indo muito mais com a cara dela. Talvez seja porque até ela cansou de estarmos só nós duas. Foi procurar outros leitores, escritores e estantes.

E eu aqui, trabalho com as letras, olho no relógio, manda uma mensagem.

Alguém para rir comigo de alguma piada? Alguém para ler meus textos? Alguém para simplesmente tomar um café?

Ele, meu marido, meu único companheiro trabalha fora, e eu, home office, redatora, revisora, escritora, contento-me com as companhias das letras.

Mas, preciso me acostumar com essa solidão. Afinal eu que escolhi. Eu que escolhi trabalhar de casa e não cruzar com pessoas todos os dias.

Enquanto eles compartilham momentos, eu compartilho palavras no papel. Mas, tudo bem, eu escolhi.

Todas as escolhas geram consequências...e todos os traumas geram escolhas.

Escolhi tomar café sozinha. Eu escolhi a solidão de um apartamento.

Eu amo as pessoas, mas as temo. De onde estou o mundo é grande, e eu pequena e perdida.

Escolhi trabalhar sozinha, embora uma vez ou outra eu mande uma mensagem para lembrar que existo.

Mas, eu escolhi...

Escolhi a solidão, porque quando tinha companhia, não podia ser eu. Era uma tal izabella disfarçada de joana. Com sorriso no rosto e medo no coração. Saia na rua, trabalhava com as pessoas e imaginava cada uma delas me pisoteando. E eu? Ia sumindo.

Mas, tudo bem, eu escolhi ficar em casa. E agora estou segura desses olhares e pisões, e consequentemente, segura das risadas, dos colegas, da companhia, dos segredos, das babaquices...eu estou segura e com saudades. Mas, segura.

Pelo menos eu tenho as letras, os gatos, e quem sabe alguns leitores. Quem sabe?