Auschwitz e o Hospital Colônia de Barbacena
Na manhã de hoje, logo após o café liguei o meu celular, ao que tomado por certa curiosidade fui navegar nas redes sociais. E, abrindo o Facebook, fui tomado de surpresa ao ver as postagens (em fotos) de um antigo amigo de infância, hoje a morar nos Estados Unidos. Ele havia feito uma viagem à Polônia, mais precisamente no sul daquele país, onde foi conhecer e, portanto, visitar Auschwitz, este que foi o mais famoso campo de concentração nazista, o qual matou ao menos 1,1 milhão de pessoas, sendo a maior parte judeus.
Segundo o meu amigo, chega a ser impressionante o tamanho daquela área, onde somente pelas fotos e vídeos só se tem uma ideia muito vaga (e, portanto, imprecisa) de como era grande. E pelo imenso número de chegadas de pessoas (vindas em vagões de trens), o que diariamente era ali feito consistia numa “contabilidade” em que se realizava um “balanço de vidas/mortes” entre aquelas vítimas, até mesmo para não haver uma superpopulação de presos. Estamos falando de um “homicídio em massa” (genocídio).
Não irei aqui falar a respeito propriamente do holocausto, sabendo-se que o espaço de Auschwitz foi o pior e mais cruel complexo de todos os campos de concentração criados pelo regime nazista. E repetindo, não me focarei neste trabalho sobre o holocausto, até porque todos já conhecem esta parte da História.
Mas, voltando ao meu amigo das redes sociais, conforme ele me disse, há ali três campos subdivididos (na verdade, quarenta campos somados em seu total), no que se faziam trabalhos forçados e um a ser um campo de execuções, onde, após a verificação de cada preso, era selecionado quem iria ser morto, sobretudo, nas câmaras de gás, ou mesmo a tiros. A se saber que muitos morreram por outras consequências, como fome, exposição a condições climáticas insuportáveis e extremas (frio), condições insalubres, doenças, etc.
E quem ali visita impossível não se deixar levar pela imaginação a se colocar, é claro, “na pele de quem por lá passou”. Hoje existe um “Memorial Auschwitz-Birkenau”, o qual para se chegar basta pegar um voo para Cracóvia e seguir em direção a Oświęcim.
E, desde já, não é preciso dizer que não será como um passeio de diversão na Disneylândia ou nas praias do Caribe ou em algumas de nossas lindas praias. Nada disso, será uma experiência bem diferente, para não dizer "deprimente" (segundo as palavras de meu amigo).
Bom, à medida que observava as fotos no Facebook (como também em sua conta no Instagram) lembrei-me de um outro “campo de concentração”, sendo que este foi aqui em nossas lindas terras brasileiras, mais precisamente na cidade de Barbacena, Minas Gerais. Estou me referindo ao [também desumano] Hospital Colônia de Barbacena, uma instituição psiquiátrica construída nesta cidade a qual, por sua causa, ela ficou conhecida como ... a “Cidade dos Loucos”.
Oh, todos no Brasil sabem que o mineiro tem um regionalismo característico em chamar certas coisas (ou mesmo fatos) de “trem”. Como, por exemplo: “Que trem bão, sô!”, “queria tanto comer um trem gostoso hoje no almoço”, “aqui agora no Brasil tá um trem de doido”, etc.
Pois bem, é sobre este “trem de doido” que eu gostaria de falar. Apesar de que o termo “trem” seja usado [pelo mineiro] para diversas coisas, há quem diga que a devida expressão “trem de doido” surgiu por causa dos trens que transportavam os pacientes transtornados (isto é, os doidos, a fim de que seja melhor compreendido) para o então hospício de Barbacena. Sim, eles eram levados em vagões de trem, semelhantes às vítimas do holocausto nos campos de concentração nazista.
Sabendo-se que estávamos “on-line”, mas sem querer competir com o meu amigo, eu o retribui com algumas fotos do Hospital Colônia de Barbacena o qual visitei, e que hoje é chamado de “Museu da Loucura”. E perguntei-lhe se havia lido um livro cujo nome é “Holocausto Brasileiro”, escrito pela jornalista Daniela Arbex. O citado livro foi, na verdade, um best-seller, que deu origem ao documentário de mesmo nome, recebendo o prêmio de segundo melhor “Livro-Reportagem no Prêmio Jabuti (em 2014).
E nele foi mostrado (por várias fotos) o que havia naquele hospital psiquiátrico e suas condições desumanas. Onde foi relatado que [lá] era recebido não apenas portadores de transtornos mentais, como também epiléticos, moradores de rua, órfãos, mendigos, prostitutas, homossexuais, pessoas tristes (melancólicas), portadores de depressão, idosos abandonados, jovens problemáticos, alguns “desajustados”, e até moças que haviam perdido a virgindade antes do casamento (sendo que essas foram levadas para lá por suas próprias “famílias”!), dentre outras. Na verdade, muitos dos outros [aqui mencionados] foram, sim, rejeitados por suas "queridas famílias" (desculpem-me pela ironia).
Isto sem falar de crianças que foram lá jogadas porque foram rejeitadas pelos seus tão "amáveis pais" (mais uma vez peço desculpas pela ironia). E aqui faz-se preciso saber que muitos internos não tinham propriamente o diagnóstico clínico de “transtorno mental”, porém eram considerados “o lixo da sociedade” (que ninguém co'eles se importa).
E, para não dizer que a “Cidade dos Loucos” só recebia os “invisíveis da sociedade”, deixo para o conhecimento de todos que foi nela que morreu (devido problemas mentais produzidos pela sífilis) o incrível (embora muito polêmico) jogador de futebol, Heleno de Freitas. Ele morreu em 1959 no Hospital Colônia de Barbacena, onde estava internado.
É isso aí, meu amigo (minha amiga), “o ‘trem’ é mais feio do que a gente pensa” (como diz o pessoal de Minas). E voltando ao Campo de Concentração de Auschwitz, segundo é relatado na História, quando o então Presidente dos EUA, Harry S. Truman visitou os campos de concentração nazista ele pediu aos jornalistas e fotógrafos: “Registrem tudo o que puderem aqui, tirem muitas fotos, filmem tudo, porque se não fizermos isto as gerações do futuro não acreditarão no que aconteceu aqui”. Ou seja, ele ficou chocado com toda aquela visão.
Pois bem, não quero comparar o conhecido campo de concentração com o hospício de Minas, mas tanto em Auschwitz quanto no Hospital Colônia as condições eram degradantes, onde eram depositados os “indesejados nos espaços do mundo”, sendo que um deles foi destinado aos grupos de “raças inferiores”, que eram os judeus, ciganos e até comunistas. E no outro espaço (no hospício de Minas) eram jogados os que eram considerados como “excrementos da sociedade”. E a pergunta é: Por que foi realizado isto? Oh! quer uma resposta simples? Darei agora, então: por "aversão", por "preconceito", por "intolerância", por "sentimento de segregação e, portanto, separação (discriminação)", por "ódio" mesmo.
Então, se formos analisar vários fatos que envergonharam a espécie humana, é inevitável uma outra pergunta: Por que as pessoas praticam atos cruéis e abomináveis? Sim, por que o ser humano é muitas vezes “mau”? Qual a desculpa do homem para poder, talvez, fugir de sua culpa no que faz de mau? E nest’hora vem à tona a questão do MAL.
Buscando respostas na Psicologia, alguém já disse que certas pessoas “fazem o que lhes pedem para fazer” (Stanley Milgram), a se lembrar bem a justificativa de um oficial nazista em seu julgamento, o qual disse que “apenas cumpria ordens” (Adolf Eichmann). Ou seja, praticou suas maldades sem nenhum questionamento ou ponderação no que era-lhe mandado. E aqui eu pergunto: Será verdade o que disse, ou o que ele fazia visava realizar o “prazer [pessoal] de praticar suas maldades nos campos de extermínio? Ou em outras palavras, ele sabia que estava [diante da vida] errado, todavia fez por que quis?!
E o que não dizer das experiências de outro conhecido nazista, o médico Josef Mengele, cognominado “Todesengel”, que, traduzindo para o português significa “Anjo da Morte”? Será que ele também só estava “cumprindo ordens”? Meu estimado leitor, eu acredito que ele até sentia um grande orgulho de ser conhecido como "o anjo da morte" de judeus.
Bem, não irei me aprofundar quanto à pessoa deste oficial, ao que só estou convidando o leitor a uma meditação no que diz respeito à questão da “perversidade humana”, embora eu deixo a pergunta: como você define a personalidade do citado nome e de outros?
Mas, voltemos ao que falávamos:
É bem conhecido que no Hospital Colônia de Barbacena também eram realizadas várias “experiências” com os seus internos. E que, diga-se de passagem, fizeram de muitos deles verdadeiros “experimentos humanos”. Sim, muitas foram as “cobaias”, sendo que na maioria das vezes não se havia nenhum critério técnico. A se saber que vários eletrochoques, por exemplo, eram feitos “de qualquer jeito”.
Ou seja, sem avaliação do caso, sem efetuar “risco cirúrgico”, sem sedação ao paciente, etc. Isso sem mencionar outros procedimentos, tais como a própria lobotomia e outros meios onde era lesado (de forma irreversível) o cérebro da vítima.
E longe de dizer que havia “humanização” em seus procedimentos, no que houve, sim, muita “covardia” e “conivência” por parte de muitos. Mais uma vez convido o leitor a ler o livro “Holocausto Brasileiro” (da jornalista Daniela Arbex), ao que verá o horror no espaço em que ela focou o seu trabalho.
E agora eu me lembrei de um caso em que ela citou onde uma irmã de caridade (supervisora de um pavilhão) ordenou a um atendente de enfermagem que desse um choque num paciente só porque este estaria lhe incomodando. Vejamos bem: isto não era (e nunca foi) tarefa para ser executada por profissionais de enfermagem. A freira que, por usar um hábito que lhe desse vaidade e poder, fazia o mesmo que um oficial nazista fardado, a se saber que em ambos os casos tudo era praticado somente por prazer [em maltratar alguém].
Oh, a respeito da freira covarde eu acabo de me lembrar de outro fato vergonhoso nas páginas da História, que foi a “Santa Inquisição” (também chamada de “Santo Ofício”), esta que nasceu de grupos de instituições dentro do sistema jurídico da “santa” Igreja Católica. Bom, como não se tinha registros fotográficos ou de vídeos, só nos restou “imaginar” o que era feito: pessoas sendo lançadas na fogueira, torturadas, assassinadas (por serem consideradas heréticas, apóstatas, blasfemas, ou mesmo por terem uma opinião contrária ao sistema fundamentalista do clero). Ou seja, um abuso de poder por parte de uma Igreja que tiranizou o mundo por mais de mil anos. Ah! Deixa quieto. Prefiro retornar ao foco principal. Caso eu der sequência é bem provável que serei uma "vítima" da "santa inquisição" vinda pela língua de algum fanático católico, o qual não aceita que a Igreja erra e já errou muito durante a História. Nota: eu sou católico, mas "de pés-no-chão", onde em minha vida se faz deste modo: primeiro obrigação, depois devoção. E, só para deixar bem claro: não tenho nenhum preconceito com nenhuma religião (das que são verdadeiramente "dignas" de serem chamadas "religião", e não as que são "ópio do povo", a jogar e entupir na mente de seus fiéis "discursos de alienação"). Que ninguém venha a me interpretar mal, tá legal? E sou livre, frequento, minha igreja, vou às sinagogas, visito templos budistas, terreiros, porque, como eu disse, sou livre. Deus me livre de ser escravo de religião.
Bom, voltando ao que antes falávamos, e quanto aos “funcionários subalternos”, estes que dizem que apenas “cumprem ordens”, será que, antes de dormir, punham a cabeça em seus travesseiros sem nenhum sentimento de culpa? Sim, é comum vermos pessoas vendo certos absurdos e, no entanto, a ficarem caladas. No que pode ser classificado, sem nenhuma dúvida, como omissão ou covardia mesmo.
É verdade! A necessidade de trabalhar, pelo que é preciso sobreviver a fim de comer, pagar contas, enfim, sobreviver no mundo, faz com que muitos se acovardam e, portanto, se silenciam diante de certas circunstâncias. E são [eles] ou “testemunhas oculares” ou mesmo “cúmplices” no que houve, onde, de certa forma, "participam do ritual [coletivo] do mal". Ah, quantas vezes o empregado vê o chefe, o superior, ou o patrão fazendo "alguma coisa errada", mas fica "de bico calado"? Como a quem segue aquele famoso ditado (próprio dos covardes): "ver, ouvir ... e calar".
E aí! Só para chegarmos ao final da prosa: Qual é o “comportamento anormal”? Seria de alguém a que estaria preso dentro de um hospício ou de quem pratica crueldades contra eles? E quem é a “raça louvável”, seria a do oficial nazista perverso ou dos “ratos” (que assim eram denominados os judeus pelos nazistas)?
E então, haveria uma “crença lógica” que pudesse justificar o que se faz de desumano em tantos espaços?
Alguém seria capaz de “compreender” os crimes de guerra e as atrocidades cometidas pelo ser humano a outro ser humano? Ou será que nem todos são “humanos”?
Até quando o "ser humano" será “do jeito que é”, isto é, mau?
E por que muitos cedem às pressões sociais, como foi o caso no que ocorreu na Alemanha, em que muitos “precisaram” odiar os judeus (e outras etnias)?
Por que é tão forte a conformidade a uma linha ideológica de pensamento, sobretudo em "concordar" com os que pregam a violência e discursos de ódio (contra alguém, uma ideologia, ou uma raça)?
E será que a História não está sendo muitas vezes ... repetida?
Até quando o mundo será uma “representação dramática” em seus atos?
Bem, haveria muito a ser dito [aqui] tanto sobre Auschwitz quanto sobre o Hospital Colônia de Barbacena, porém, acho melhor encerrar. Eu não falei nada a respeito da comercialização de cadáveres (no hospício), os quais eram vendidos para as faculdades de medicina, não me aprofundei quanto às técnicas usadas pelos nazistas (nos campos), enfim, deixei passar muita coisa, talvez até mesmo pra poupar o leitor.
Nos solos regados por sangue ...
e onde enterrados foram os corpos de inocentes
ou lançados foram suas cinzas ao vento
vítimas do ódio, do preconceito e da intolerância de muitos
hoje se acha coberto por flores
Seria um sinal de que ainda podemos acreditar ... na Esperança?
Carlos Renoir
Rio de Janeiro, 09 de agosto de 2023
ILUSTRAÇÕES: ACERVO PESSOAL E FOTOS TIRADAS POR CONTATOS DE REDES SOCIAIS DURANTE SUAS VISITAS NOS LUGARES CITADOS NESTE TRABALHO.
INDICAÇÃO DE LEITURA: Livro “HOLOCAUSTO BRASILEIRO” – Daniela Arbex
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FORMATAÇÃO SEM AS IMAGENS
Auschwitz e o Hospital Colônia de Barbacena
Na manhã de hoje, logo após o café liguei o meu celular, ao que tomado por certa curiosidade fui navegar nas redes sociais. E, abrindo o Facebook, fui tomado de surpresa ao ver as postagens (em fotos) de um antigo amigo de infância, hoje a morar nos Estados Unidos. Ele havia feito uma viagem à Polônia, mais precisamente no sul daquele país, onde foi conhecer e, portanto, visitar Auschwitz, este que foi o mais famoso campo de concentração nazista, o qual matou ao menos 1,1 milhão de pessoas, sendo a maior parte judeus.
Segundo o meu amigo, chega a ser impressionante o tamanho daquela área, onde somente pelas fotos e vídeos só se tem uma ideia muito vaga (e, portanto, imprecisa) de como era grande. E pelo imenso número de chegadas de pessoas (vindas em vagões de trens), o que diariamente era ali feito consistia numa “contabilidade” em que se realizava um “balanço de vidas/mortes” entre aquelas vítimas, até mesmo para não haver uma superpopulação de presos. Estamos falando de um “homicídio em massa” (genocídio).
Não irei aqui falar a respeito propriamente do holocausto, sabendo-se que o espaço de Auschwitz foi o pior e mais cruel complexo de todos os campos de concentração criados pelo regime nazista. E repetindo, não me focarei neste trabalho sobre o holocausto, até porque todos já conhecem esta parte da História.
Mas, voltando ao meu amigo das redes sociais, conforme ele me disse, há ali três campos subdivididos (na verdade, quarenta campos somados em seu total), no que se faziam trabalhos forçados e um a ser um campo de execuções, onde, após a verificação de cada preso, era selecionado quem iria ser morto, sobretudo, nas câmaras de gás, ou mesmo a tiros. A se saber que muitos morreram por outras consequências, como fome, exposição a condições climáticas insuportáveis e extremas (frio), condições insalubres, doenças, etc.
E quem ali visita impossível não se deixar levar pela imaginação a se colocar, é claro, “na pele de quem por lá passou”. Hoje existe um “Memorial Auschwitz-Birkenau”, o qual para se chegar basta pegar um voo para Cracóvia e seguir em direção a Oświęcim.
E, desde já, não é preciso dizer que não será como um passeio de diversão na Disneylândia ou nas praias do Caribe ou em algumas de nossas lindas praias. Nada disso, será uma experiência bem diferente, para não dizer "deprimente" (segundo as palavras de meu amigo).
Bom, à medida que observava as fotos no Facebook (como também em sua conta no Instagram) lembrei-me de um outro “campo de concentração”, sendo que este foi aqui em nossas lindas terras brasileiras, mais precisamente na cidade de Barbacena, Minas Gerais. Estou me referindo ao [também desumano] Hospital Colônia de Barbacena, uma instituição psiquiátrica construída nesta cidade a qual, por sua causa, ela ficou conhecida como ... a “Cidade dos Loucos”.
Oh, todos no Brasil sabem que o mineiro tem um regionalismo característico em chamar certas coisas (ou mesmo fatos) de “trem”. Como, por exemplo: “Que trem bão, sô!”, “queria tanto comer um trem gostoso hoje no almoço”, “aqui agora no Brasil tá um trem de doido”, etc.
Pois bem, é sobre este “trem de doido” que eu gostaria de falar. Apesar de que o termo “trem” seja usado [pelo mineiro] para diversas coisas, há quem diga que a devida expressão “trem de doido” surgiu por causa dos trens que transportavam os pacientes transtornados (isto é, os doidos, a fim de que seja melhor compreendido) para o então hospício de Barbacena. Sim, eles eram levados em vagões de trem, semelhantes às vítimas do holocausto nos campos de concentração nazista.
Sabendo-se que estávamos “on-line”, mas sem querer competir com o meu amigo, eu o retribui com algumas fotos do Hospital Colônia de Barbacena o qual visitei, e que hoje é chamado de “Museu da Loucura”. E perguntei-lhe se havia lido um livro cujo nome é “Holocausto Brasileiro”, escrito pela jornalista Daniela Arbex. O citado livro foi, na verdade, um best-seller, que deu origem ao documentário de mesmo nome, recebendo o prêmio de segundo melhor “Livro-Reportagem no Prêmio Jabuti (em 2014).
E nele foi mostrado (por várias fotos) o que havia naquele hospital psiquiátrico e suas condições desumanas. Onde foi relatado que [lá] era recebido não apenas portadores de transtornos mentais, como também epiléticos, moradores de rua, órfãos, mendigos, prostitutas, homossexuais, pessoas tristes (melancólicas), portadores de depressão, idosos abandonados, jovens problemáticos, alguns “desajustados”, e até moças que haviam perdido a virgindade antes do casamento (sendo que essas foram levadas para lá por suas próprias “famílias”!), dentre outras. Na verdade, muitos dos outros [aqui mencionados] foram, sim, rejeitados por suas "queridas famílias" (desculpem-me pela ironia).
Isto sem falar de crianças que foram lá jogadas porque foram rejeitadas pelos seus tão "amáveis pais" (mais uma vez peço desculpas pela ironia). E aqui faz-se preciso saber que muitos internos não tinham propriamente o diagnóstico clínico de “transtorno mental”, porém eram considerados “o lixo da sociedade” (que ninguém co'els se importa).
E, para não dizer que a “Cidade dos Loucos” só recebia os “invisíveis da sociedade”, deixo para o conhecimento de todos que foi nela que morreu (devido problemas mentais produzidos pela sífilis) o incrível (embora muito polêmico) jogador de futebol, Heleno de Freitas. Ele morreu em 1959 no Hospital Colônia de Barbacena, onde estava internado.
É isso aí, meu amigo (minha amiga), “o ‘trem’ é mais feio do que a gente pensa” (como diz o pessoal de Minas). E voltando ao Campo de Concentração de Auschwitz, segundo é relatado na História, quando o então Presidente dos EUA, Harry S. Truman visitou os campos de concentração nazista ele pediu aos jornalistas e fotógrafos: “Registrem tudo o que puderem aqui, tirem muitas fotos, filmem tudo, porque se não fizermos isto as gerações do futuro não acreditarão no que aconteceu aqui”. Ou seja, ele ficou chocado com toda aquela visão.
Pois bem, não quero comparar o conhecido campo de concentração com o hospício de Minas, mas tanto em Auschwitz quanto no Hospital Colônia as condições eram degradantes, onde eram depositados os “indesejados nos espaços do mundo”, sendo que um deles foi destinado aos grupos de “raças inferiores”, que eram os judeus, ciganos e até comunistas. E no outro espaço (no hospício de Minas) eram jogados os que eram considerados como “excrementos da sociedade”. E a pergunta é: Por que foi realizado isto? Oh! quer uma resposta simples? Darei agora, então: por "aversão", por "preconceito", por "intolerância", por "sentimento de segregação e, portanto, separação (discriminação)", por "ódio" mesmo.
Então, se formos analisar vários fatos que envergonharam a espécie humana, é inevitável uma outra pergunta: Por que as pessoas praticam atos cruéis e abomináveis? Sim, por que o ser humano é muitas vezes “mau”? Qual a desculpa do homem para poder, talvez, fugir de sua culpa no que faz de mau? E nest’hora vem à tona a questão do MAL.
Buscando respostas na Psicologia, alguém já disse que certas pessoas “fazem o que lhes pedem para fazer” (Stanley Milgram), a se lembrar bem a justificativa de um oficial nazista em seu julgamento, o qual disse que “apenas cumpria ordens” (Adolf Eichmann). Ou seja, praticou suas maldades sem nenhum questionamento ou ponderação no que era-lhe mandado. E aqui eu pergunto: Será verdade o que disse, ou o que ele fazia visava realizar o “prazer [pessoal] de praticar suas maldades nos campos de extermínio? Ou em outras palavras, ele sabia que estava [diante da vida] errado, todavia fez por que quis?!
E o que não dizer das experiências de outro conhecido nazista, o médico Josef Mengele, cognominado “Todesengel”, que, traduzindo para o português significa “Anjo da Morte”? Será que ele também só estava “cumprindo ordens”? Meu estimado leitor, eu acredito que ele até sentia um grande orgulho de ser conhecido como "o anjo da morte" de judeus.
Bem, não irei me aprofundar quanto à pessoa deste oficial, ao que só estou convidando o leitor a uma meditação no que diz respeito à questão da “perversidade humana”, embora eu deixo a pergunta: como você define a personalidade do citado nome e de outros?
Mas, voltemos ao que falávamos:
É bem conhecido que no Hospital Colônia de Barbacena também eram realizadas várias “experiências” com os seus internos. E que, diga-se de passagem, fizeram de muitos deles verdadeiros “experimentos humanos”. Sim, muitas foram as “cobaias”, sendo que na maioria das vezes não se havia nenhum critério técnico. A se saber que vários eletrochoques, por exemplo, eram feitos “de qualquer jeito”.
Ou seja, sem avaliação do caso, sem efetuar “risco cirúrgico”, sem sedação ao paciente, etc. Isso sem mencionar outros procedimentos, tais como a própria lobotomia e outros meios onde era lesado (de forma irreversível) o cérebro da vítima.
E longe de dizer que havia “humanização” em seus procedimentos, no que houve, sim, muita “covardia” e “conivência” por parte de muitos. Mais uma vez convido o leitor a ler o livro “Holocausto Brasileiro” (da jornalista Daniela Arbex), ao que verá o horror no espaço em que ela focou o seu trabalho.
E agora eu me lembrei de um caso em que ela citou onde uma irmã de caridade (supervisora de um pavilhão) ordenou a um atendente de enfermagem que desse um choque num paciente só porque este estaria lhe incomodando. Vejamos bem: isto não era (e nunca foi) tarefa para ser executada por profissionais de enfermagem. A freira que, por usar um hábito que lhe desse vaidade e poder, fazia o mesmo que um oficial nazista fardado, a se saber que em ambos os casos tudo era praticado somente por prazer [em maltratar alguém].
Oh, a respeito da freira covarde eu acabo de me lembrar de outro fato vergonhoso nas páginas da História, que foi a “Santa Inquisição” (também chamada de “Santo Ofício”), esta que nasceu de grupos de instituições dentro do sistema jurídico da “santa” Igreja Católica. Bom, como não se tinha registros fotográficos ou de vídeos, só nos restou “imaginar” o que era feito: pessoas sendo lançadas na fogueira, torturadas, assassinadas (por serem consideradas heréticas, apóstatas, blasfemas, ou mesmo por terem uma opinião contrária ao sistema fundamentalista do clero). Ou seja, um abuso de poder por parte de uma Igreja que tiranizou o mundo por mais de mil anos. Ah! Deixa quieto. Prefiro retornar ao foco principal. Caso eu der sequência é bem provável que serei uma "vítima" da "santa inquisição" vinda pela língua de algum fanático católico, o qual não aceita que a Igreja erra e já errou muito durante a História. Nota: eu sou católico, mas "de pés-no-chão", onde em minha vida se faz deste modo: primeiro obrigação, depois devoção. E, só para deixar bem claro: não tenho nenhum preconceito com nenhuma religião (das que são verdadeiramente "dignas" de serem chamadas "religião", e não as que são "ópio do povo", a jogar e entupir na mente de seus fiéis "discursos de alienação"). Que ninguém venha a me interpretar mal, tá legal? E sou livre, frequento, minha igreja, vou às sinagogas, visito templos budistas, terreiros, porque, como eu disse, sou livre. Deus me livre de ser escravo de religião.
Bom, voltando ao que antes falávamos, e quanto aos “funcionários subalternos”, estes que dizem que apenas “cumprem ordens”, será que, antes de dormir, punham a cabeça em seus travesseiros sem nenhum sentimento de culpa? Sim, é comum vermos pessoas vendo certos absurdos e, no entanto, a ficarem caladas. No que pode ser classificado, sem nenhuma dúvida, como omissão ou covardia mesmo.
É verdade! A necessidade de trabalhar, pelo que é preciso sobreviver a fim de comer, pagar contas, enfim, sobreviver no mundo, faz com que muitos se acovardam e, portanto, se silenciam diante de certas circunstâncias. E são [eles] ou “testemunhas oculares” ou mesmo “cúmplices” no que houve, onde, de certa forma, "participam do ritual [coletivo] do mal". Ah, quantas vezes o empregado vê o chefe, o superior, ou o patrão fazendo "alguma coisa errada", mas fica "de bico calado"? Como a quem segue aquele famoso ditado (próprio dos covardes): "ver, ouvir ... e calar".
E aí! Só para chegarmos ao final da prosa: Qual é o “comportamento anormal”? Seria de alguém a que estaria preso dentro de um hospício ou de quem pratica crueldades contra eles? E quem é a “raça louvável”, seria a do oficial nazista perverso ou dos “ratos” (que assim eram denominados os judeus pelos nazistas)?
E então, haveria uma “crença lógica” que pudesse justificar o que se faz de desumano em tantos espaços?
Alguém seria capaz de “compreender” os crimes de guerra e as atrocidades cometidas pelo ser humano a outro ser humano? Ou será que nem todos são “humanos”?
Até quando o "ser humano" será “do jeito que é”, isto é, mau?
E por que muitos cedem às pressões sociais, como foi o caso no que ocorreu na Alemanha, em que muitos “precisaram” odiar os judeus (e outras etnias)?
Por que é tão forte a conformidade a uma linha ideológica de pensamento, sobretudo em "concordar" com os que pregam a violência e discursos de ódio (contra alguém, uma ideologia, ou uma raça)?
E será que a História não está sendo muitas vezes ... repetida?
Até quando o mundo será uma “representação dramática” em seus atos?
Bem, haveria muito a ser dito [aqui] tanto sobre Auschwitz quanto sobre o Hospital Colônia de Barbacena, porém, acho melhor encerrar. Eu não falei nada a respeito da comercialização de cadáveres (no hospício), os quais eram vendidos para as faculdades de medicina, não me aprofundei quanto às técnicas usadas pelos nazistas (nos campos), enfim, deixei passar muita coisa, talvez até mesmo pra poupar o leitor.
Nos solos regados por sangue ...
e onde enterrados foram os corpos de inocentes
ou lançados foram suas cinzas ao vento
vítimas do ódio, do preconceito e da intolerância de muitos
hoje se acha coberto por flores
Seria um sinal de que ainda podemos acreditar ... na Esperança?
Carlos Renoir
Rio de Janeiro, 09 de agosto de 2023
ILUSTRAÇÕES: ACERVO PESSOAL E FOTOS TIRADAS POR CONTATOS DE REDES SOCIAIS DURANTE SUAS VISITAS NOS LUGARES CITADOS NESTE TRABALHO.
INDICAÇÃO DE LEITURA: Livro “HOLOCAUSTO BRASILEIRO” – Daniela Arbex