O escritor indeciso
O cérebro não impulsiona a mão e a caneta sobre a folha em branco. Em tempos de tecnologias, ele ainda escreve com caneta, mas as palavras não brotam. O suposto dono da mão e da caneta está indeciso sobre a narrativa. Qual o melhor conteúdo e a melhor forma a ser desenvolvida, para agradar seus parcos leitores? Pensa. E enquanto pensa, bebe um cafezinho.
Não seria melhor escrever sobre o que agrada a si? Hum, talvez, pensa enquanto belisca um pedaço de torta. Poesia, não! Chega, por hora. Uma crônica em defesa das causas ambientais, geralmente agrada. Animais amados ou abandonados. Não, hoje não! Sobre a vida, alegria, esperança. Afinal, políticas de inclusão social voltaram, com o novo governo. O escritor não decide. Com tantas vidas de jovens pobres, maioria preta, sendo ceifadas, ele pensa ser hipocrisia escrever sobre felicidades. Ah, o futebol, principalmente agora, com as mulheres! Também não. Então, que tal sobre política? Para o bem ou para o mal, sempre mexe com as pessoas.
Mas, o escritor não quer escrever sobre o que disse o governador de Minas, admirador de Mussolini, sobre separar o Sul e o Sudeste do Nordeste. Também não quer narrar sobre a recente chacina da polícia paulista, que o governador aplaudiu. Zema e Tarcísio duelam, para saber quem herdará o espólio político de Bolsonaro. A disputa ficou mais acirrada com a entrada do fofíssimo Eduardo Leite. O inelegível ainda não se manifestou.
Assim, indeciso e sem inspiração, o escritor desistiu de escrever.