Prédios de Vidro

Conheci um país onde tudo é muito chique. Aliás, não é um país, é só outro lado da cidade.

Mas sua realidade me é tão estranha, que parece outro país.

Lá nesse país,

Aliás, nesse bairro, chamado Itaim Bibi, as casas são grandes e bonitas.

As pessoas estão sempre bem-vestidas. As mulheres usam saltos, calças sociais e andam com o nariz para cima.

Algumas andam com os narizes em suas alturas apropriadas, mas estas não usam saltos. Elas usam uniformes e limpam. Limpam as ruas, limpam as casas e os prédios.

Os prédios são muitos e a maioria de vidro. Imagina para essas mulheres que limpam, o trabalho que é deixar todos esses vidros como os seus chefes desejam. Os chefes são donos e ou dirigentes de empresas. Andam de social e com cigarro entre os dedos. Mas, nem todos. Alguns são donos de empresas que ainda estão em crescimento, então eles alugam salas nesses prédios de vidros e contratam pessoas no modelo pessoa jurídica para não gastarem muito com os direitos proporcionados pelo trabalho formal. Durante a manhã vão à academia, durante a tarde passam nas empresas só para analisar se seus subordinados estão fazendo tudo que lhes dizem a respeito. Tenho a impressão de que não sabem o que acontece em suas empresas. Mas, talvez eu esteja errada, claro.

As mulheres não usam apenas roupas finas e salto alto, algumas usam roupas esportivas e correm na rua. Estão cuidando do condicionamento físico. Mas, nem suam. Do outro lado do bairro, quase sem ser visto, existe o trem. Este trem leva e traz as pessoas para os seus devidos trabalhos no famoso bairro Itaim Bibi, mas claro, só os subordinados. Os grandes ocupam os estacionamentos dos prédios de vidros com seus carros caros.

Eu andando sobre esse chão de ouro, senti saudade da minha terra de bronze. Que para ser sincera, fica só algumas estações de trem de distância.

Quando voltei para esse meu bairro, também vi mulheres correndo pela rua, mas elas suavam enquanto corriam. Diferentemente, das mulheres esportivas do Itaim bibi, que têm pele limpa até durante os exercícios físicos. No meu bairro, não só as esportivas correm, as mães também correm, levando e buscando os filhos da escola. No meu bairro, até os homens correm, nesse caso, para não perder o ônibus que os levarão para o bairro superior atender os donos e inquilinos dos prédios de vidro.

Os prédios daqui de onde moro não são de vidro. Até tem um ou dois, mas a maioria são coloridos, e eu amo as cores. As pessoas usam roupas do dia a dia na rua, e, ainda bem, porque roupa social incomoda.

Não entendo por que tanta diferença, dizem que é porque lá é um bairro comercial e aqui residencial. Bom, o que sei é que quando cheguei aqui, percebi um lar. Tirei os sapatos, deitei-me no meu sofá velho e respirei profundamente. Conclui que sou milionária por usar roupas confortáveis e viver em um bairro colorido. Imagina acordar todos os dias e deparar-me com narizes empinados e prédios de vidros? Que pesadelo!