Agosto, o mês dos 200 anos do nascimento do poeta Gonçalves Dias
Em 1823, na vigência do seu terceiro século, o Brasil passava por muitas transformações. No ano anterior, Dom Pedro I deu o grito da independência, e o País ainda se acostumava com aquilo. Na verdade, há indícios claros de que passados tantos anos, o país ainda não se acostumou, em definitivo, com essa tal liberdade.
Em maio daquele ano, uma Assembleia Constituinte se reunia, no Rio de Janeiro, para elaborar o que seria a primeira Constituição Federal do Brasil. Constituição essa que limitava os poderes de D. Pedro I. Crise. O governo mandou fechar a Assembleia e prender os deputados.
No Piauí, no dia 13 de março, acontecia a sangrenta Batalha do Jenipapo, onde tropas portuguesas foram expulsas pelos brasileiros. O vereador, por Imperatriz, professor/historiador Carlos Hermes, tem uma importante obra sobre esse evento.
No dia dois de julho, tropas portuguesas se renderam aos brasileiros da Bahia. No dia 15 de agosto era assinado o documento de adesão do Pará à independência brasileira, anexando a província do Grão-Pará, ao Brasil.
No Maranhão, a economia era dominada por empresas colonizadoras francesas e holandesas. Ao mesmo tempo, era intensificada a criação de cidades e vilas e as instalações de instituições burocráticas.
Nesse cotejo, em 1820, Elias Ferreira Barros, vindo de Belém, se fixou no local onde em 1823 foi fundada a cidade de Carolina, que até os anos 1960 era o epicentro político/ cultural desse lado do Maranhão.
No resto do mundo, em 23 de fevereiro, ocorreu em Portugal uma rebelião contra-revolucionária do general Conde de Amarante e de outros oficiais afastados do poder em finais de 1820. Em 7 de abril, a França invadiu a Espanha com o objetivo de repor o regime absolutista.
Em 28 de setembro, iniciou-se o pontificado do Papa Leão XII, que duraria apenas 6 anos e ficaria marcado pela forte oposição à Maçonaria e à Carbonária. Essa última, uma sociedade secreta e revolucionária que atuou na Itália, França, Portugal, Espanha, Brasil e Uruguai nos séculos XIX e XX
Foi no meio desse turbilhão de acontecimentos nacionais e internacionais que no dia, 10 de agosto, de 1823, nas matas de Jatobá, a 14 léguas da sede do município de Caxias (MA) que nascia um dos maiores vultos da literatura brasileira Antonio Gonçalves Dias, patrono da cadeira número 15 da Academia Brasileira de Letras, alvo de homenagens, em todo Brasil, desde o início deste 2023, quando se comemora o bicentenário de seu nascimento.
A Academia Imperatrizense de Letras (AIL) não ficará de fora das comemorações dos 200 anos do poeta e já prepara uma programação especial, para o mês de setembro.
É da AIL, o maior estudioso da vida e obra de Gonçalves Dias, no Maranhão, talvez no Brasil, Edmilson Sanches, o que já lhe renderam pelo menos três obras, escritas e publicadas, além de diversos artigos e inúmeras palestras. Não por acaso, Sanches é conterrâneo do poeta, e por muito tempo morou pertinho de onde ele nasceu. Coincidência ou não o escritor caxiense/imperatrizense, assim como Gonçalves Dias, é um reconhecido homem das letras. Um apaixonado pela literatura e as artes.
Gonçalves Dias, conforme nosso confrade Edmilson Sanches, viveu no endereço onde nasceu até os 14 anos, quando viajou para estudar em Portugal. Outros estudiosos dizem que essa viagem teria ocorrido aos 15 anos, porque antes ele teria estudado em um colégio de orientação Jesuíta, em São Luís. Essa passagem não é reconhecida por estudiosos como Sanches, que a refuta de forma veemente e afirma que essa passagem por São Luís, não ocorreu. De Caxias, foi direto para Portugal.
Foi na capital lusitana, durante seus anos de estudos, que o maranhense teria tido contato com as ideias do romantismo europeu, o que segundo seus biógrafos influenciaram toda sua obra. Não, é por acaso, portanto, que ele é laureado como um dos maiores poetas do romantismo brasileiro, e principal representante do indianismo na literatura nacional.
Parece até maldição dos gênios. O poeta viveu pouco, mas o suficiente para se imortalizar no panteão dos grandes nomes da Literatura Brasileira, sendo celebrado como o grande poeta indianista da primeira geração romântica e um dos melhores poetas líricos da literatura brasileira.
Em 41 anos de vida entremeou caminhada terrena como advogado, professor, poeta, etnógrafo, teatrólogo e jornalista. Se hoje, todo esse protagonismo ainda é motivo de espanto, imagine naquela época. Uma personalidade que merece o respeito nacional e todas as homenagens que forem necessárias. Um homem além do seu tempo.
Como é possível depreender da trajetória de Gonçalves Dias, os ares do velho mundo ampliaram a visão do maranhense. Depois de formado e de volta ao Estado, as terras maranhenses ficaram pequenas para a luz literária do poeta e ele muda-se para o Rio de Janeiro, onde o Brasil acontecia. Na cabeça, a clara intenção de se integrar ao meio literário.
Imagina-se que naquela época, não era fácil, furar a bolha da elite literária, mas como talento é tal qual um insistente pingo d´água, somado a isso a inteligência, impar, do maranhense, em 1847, com Primeiros Cantos, conseguiu sucesso e reconhecimento público.
Uma, entre muitas peculiaridades da trajetória do poeta descoberta por Sanches era seu pendor pelo aprendizado de línguas. Além do Português falava fluente, francês, alemão, inglês, latim e outros idiomas. De acordo, com Edmilson Sanches ele chegou a dominar, com o português, pelo menos oitos idiomas.
Na análise dos estudiosos da poesia de Gonçalves Dias, essa fora escrita buscando sempre a perfeição rítmica e formal, com poemas marcados pela presença de rima, musicalidade e métrica o que denota sua excelente formação acadêmica/escolar
Naturalmente humanista, ele também retratou positivamente os negros, exaltou as belezas naturais do Brasil. Além disso, ele abordou a religiosidade de caráter cristão e o sentimentalismo em suas poesias
Sua poesia lírica também é marcada pela idealização do amor e da mulher, características típicas do romantismo.
“Canção do Exílio” é um dos poemas mais famosos de Gonçalves Dias. Trata-se de um poema romântico escrito em julho de 1843, quando ainda estudava Direito em Coimbra, Portugal. É considerado um poema lírico e foi publicado na antologia “Primeiros cantos”, em 1846
O poema expressa a saudade da terra natal, o ufanismo e a valorização da natureza. A cor local, expressa pelo cenário da natureza, constrói o Brasil como um lugar paradisíaco sobre o qual se sente nostalgia e desejo de retorno: “Não permita Deus que eu morra / Sem que eu volte para lá” .
A Obra de Gonçalves Dias , entre outras análises, é importante para a literatura brasileira porque ele foi um dos primeiros a retratar a figura do índio de forma idealizada e a enaltecer a cultura e a natureza brasileiras.
Ah, antes que eu esqueça, Gonçalves Dias ainda lutou pela abolição da escravatura e pela defesa dos direitos dos povos indígenas. Infelizmente não viveu o suficiente para assistir a assinatura, em maio de 1888, da Lei Aurea. Sua vida foi tragicamente interrompida em 1864, em um naufrágio durante uma viagem de vapor para o Maranhão. Dias foi dado como desaparecido e presumivelmente falecido aos 41 anos de idade.
Outras obras do poeta:
“Primeiros Cantos” (1846), “Leonor de Mendonça” (1847), “Segundos Cantos” (1848), “Últimos Cantos” (1851) e “I-Juca-Pirama” (1851)