Não lê nem bula de remédio
“Não lê nem bula de remédio”, costuma-se ouvir alguém dizendo de outrem, para dizer que a dita pessoa não é dada ao bom hábito da leitura. Achei engraçado uma vez, já faz tempo, uma aluna minha da escola bíblica dominical dizer isso da irmã biológica dela, durante a aula, quando eu incentivava os alunos à leitura. É verdade. Há pessoas – e são milhões – que não leem coisa alguma, exceto, na atualidade, muito superficialmente, as mensagens de WhatsApp e de outras redes sociais. Nem isso, porém, se o texto não for bem pequeno.
Tenho o hábito – talvez mau hábito na visão de alguns ou até de muitos – de enviar minhas crônicas a algumas pessoas pelo WhatsApp. Não é sequer uma lista organizada de transmissão e, demais disso, não chega a ser uma centena de destinatários. Número bem menor do que isso. Venho, porém, já faz dias, me questionando em relação à continuidade desse envio, pois o feedback é ínfimo, numericamente insignificante.
As pessoas não leem! Nem os meus textos, porque talvez os achem chatos, pesados e sem graça, nem texto algum. Já não digo ler a bula de remédio, digo ler qualquer texto. Não leem. E não é somente isso. O pior é saber que, dentre os poucos que leem, é ínfima a quantidade dos que interpretam corretamente o que foi lido. Infelizmente! A maioria não entende bulhufas. Leem alhos, entendem bugalhos e vice-versa. Sou responsável pelo que digo ou escrevo, não pelo que este ou aquele entende.
Ler bula de remédio não é para qualquer um, é para quem gosta. A não ser no caso de automedicação, quando o paciente ou alguém por ele tem que ler, pelo menos a posologia, para saber como tomar. Na infância e adolescência, li muitas vezes bula de remédio: por necessidade, para orientar meus pais como tomar este ou aquele medicamento, mas também simplesmente por gosto. Assim, dado que o brasileiro, voluntária ou involuntariamente, pratica mais do que se pode imaginar a automedicação, muita gente deveria ler bula de remédio. Deveria, mas – nem isso – não lê.
Assim, raciocinando bem, aquieto meu coração. O problema, pelo menos em parte, é outro, não é somente a má qualidade ou sem-graceza dos meus textos. Eles são ruins, pesados e sem graça? Talvez o sejam. Ninguém agrada a todos. Devo, portanto, buscar escrever melhor, de forma mais agradável? Penso que sim. O ideal é melhorar sempre. Existem, contudo, as pessoas que gostam do que escrevo e como escrevo. Isso me basta, me alegra e me dá ânimo para continuar escrevendo e buscar melhorar sempre.