Consciências XXIX
Meu pai se foi, faz mais de uma semana. Se foi para nunca mais voltar. Deixou muitas saudades, lembranças, memórias, que eu chamo de amor. Deixou muito amor. E hoje é o dia em que chego na metade da minha década de 30. Mais uma vela que estou apagando. Desta vez, sem ele por perto, mas por dentro, esquentando o meu coração. Desta vez, sem salgados e doces de aniversário. Sem maiores comemorações. O meu presente, eu não posso mais ter. Só mesmo quando converso com o espelho da minha alma, que eu consigo falar com ele e também com todos os outros. Queria que me escutassem. Mas eu não vou desistir, não vou esquecê-los, não vou deixar de prosear sobre a vida com quem a deixou. O meu maior pesadelo se tornou a verdade da sua ausência. Agora, apenas pelo sonho forçado da minha imaginação, na minha crença sem Deus, que eu consigo pensar nele, como se estivesse dormindo ao lado do meu quarto. Eu continuo lembrando de tudo o que eu via ele fazer. Dói bem na alma. Mas eu sei que ele descansou, que me amou e que eu o amo. Eu sei que iremos todos para o mesmo lugar, em que não há diferenças ou contrastes, apenas uma mesma e derradeira verdade. Também me conforta saber que, apesar de todos os problemas, ele soube viver, soube ser feliz até o último momento, quando a saúde não mais permitiu que lutasse e vencesse. Me conforta saber, não que eu tive, que eu tenho um pai tão especial!