VASILHA DE RETORNO

VASILHA DE RETORNO

[Castro Rosas]

[Mãe]

Mário: eu já falei com você duas vezes, na terceira eu vou aí lhe buscar com o chinelo.

Quando seu pai chega, vou contar para ele que você não me obedece, você já bem conhece o cinto dele, no coro das penas.

[Menino]

Não se pode mais nem brincar, toda hora minha mãe inventa algo para eu faze e ainda

fica me ameaçando que vai me bater, mas também no dia que não levo uma pisa sinto até falta.

[Mãe]

Esse menino não para mais dentro de casa. Se deixar, é o dia inteirinho no meio da rua

com a meninada da vizinhança jogando bola. Chega da escola e é só o tempo de tirar a

roupa que logo se ouve o outro chamando no portão: “Só falta você, Mário”.

[Menino]

É o que, mãinha?

[Mãe]

Vá tomar banho e vestir uma roupa limpa, que você vai na casa da comadre Joana levar esses biscoitos que acabei de tirar do forno. Estão fresquinhos. Quando chegar lá, não esqueça de pedir a bença, e perguntar se ela precisa de você para fazer algum mandado.

[Menino]

Agora ferrou, nem é preciso perguntar a madrinha se tem algo para eu fazer. Mesmo que não tenha, ela inventa. Mas até que eu gosto, sempre tem uma recompensa. A bença, madrinha, mãe mandou esses biscoitos, ainda estão quentinhos.

[Madrinha]

Já ia mesmo lá na casa da comadre levar um doce de goiaba que estou terminado de fazer. É só você esperar mais um pouco que já fica pronto, e você leva na vasilha da comadre.

Até o doce ficar pronto, vá na venda do seu Antônio e pede para ele somar quanto estou devendo; aqui tem mil-réis para você comprar de bala e pirulito.

[Mãe]

A demora de Mário começou a preocupar sua mãe, pois já se passaram quatros horas, e nada do menino chegar. Agoniada, sem saber o tinha acontecido, volta e meia aparecia na porta para olhar sinal de vida do menino. Não teve outra opção, foi na casa da vizinha e pediu a comadre Lurdes para deixar Pedro chegar até a casa da comadre Joana, para saber o paradeiro de Mário.

[Pedro]

Pedro encontrou Mário na metade do caminho jogando bola no campinho improvisado que ninguém sabia dizer quem era o dono do terreno. Com dois berros, Pedro intimou Mário com um grito que se fez ouvir por todos em volta do campo. Mário, sua mãe hoje lhe arranca o coro.

[Mãe]

Minutos depois, Mário chega com a roupa tomada pelo barro. D. Vanda foi logo torcendo a orelha do menino e berrando: Por onde você ondou até uma hora dessas. Você quer me matar de agonia? Olha o estado dessa roupa! Já para o banheiro!

[Mário]

Para Mário esses acontecimentos tinham que estar no seu dia a dia. Assim quando crescesse, iria poder contar essas histórias eletrizantes que só menino e suas peraltices fazem acontecer.

Castro Rosas
Enviado por Castro Rosas em 06/08/2023
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