Saudade da Vida
COMO todo contracorrente sou avesso às datas comemorativas inventadas pelo capitalismo para esquentar as vendas, como é o caso do dia da criança, dos pais, das mães e dos avós.
Ainda continuo achando que se trata de jogada capitalista, mas sou obrigado a reconhecer que essa armação pegou e muitas pessoas ficam alegres, satisfeitas e felizes quando são homenageadas nessas datas.
Sou um cara vivido e, não raro, sou homenageado como pai e avô. Pois não é que às vezes até marejo os olhos! Contradição? Sei lá, deve ser, mas sou humano, não sou robô. Graças a Deus.
No último dia dos avós recebi homenagem dos netos e adorei, também li textos e comentários sobre o assunto aqui neste Recanto e me emocionei. Lembrei da minha saudosa avó paterna. Só conheci de avós ela. Uma figura inesquecível. Era alegre, rigorosa, firme e engraçada. Aprendi muita coisa com ela . Vó Nenen foi - continua sendo - para mim uma referência. Era terna, mas escondia a ternura, missão impossível. Nunca foi à escola mas era inteligente e tinha muita sabedoria. Todos os meus irmãos amávamos vó Nenen. Nos seus últimos momentos, não tive coragem de assistir, já no final, meu irmão mais velho notou que ela estava chorando. Perguntou-lhe: - Vó, está sentindo muita dor? Ela respondeu num sussurro de despedida: - Não, meu neto, não estou com dor mas com saudade da vida.
Que saudade de Vó Nenen. William Porto. Inté.