À Sabrina de outrora

Há alguns anos era sábado também... Enquanto andava sonâmbulo rumo à feira, nas proximidades da agência do INSS, naquela rua estreita, passou por mim a pé, sorridente, lenta e alta uma jovem, que fez questão de gritar: "ooolá, panacaaa!".

Não de imediato, acordei de meu sonambulismo intencional e sorri sem graça para aquela desconhecida.

Eu tinha acabado de completar 18 anos e nunca havia passado por situação semelhante, de modo que foi um misto de surpresa e desconforto ouvir aquela expressão informal direcionada a mim.

Senti-me, de certo modo, compelido a reconhecer aquela jovem, para lhe retribuir a saudação. Mas quem disse que eu conseguia me lembrar de seu semblante ou nome?

— Você não está me reconhecendo, Paulo?

— Oxeee! Paulo? Deve ser engano, moça.

E era, como constatou a jovem ao se aproximar mais pertinho de mim, conferir minha arcada dentária e humor.

— Desculpa. Eu confundi.

— Tudo bem. É minha primeira vez nessa posição, moça. Da próxima eu prometo ser Paulo, tá?

Não sei se a jovem percebeu minha sinceridade. Suspeito, porém, que não, pois fechou os dentes, diminuiu quase um metro de carisma e seguiu adiante muito velozmente.

Nem parecia a Sabrina de outrora.

Damião Caetano da Silva
Enviado por Damião Caetano da Silva em 05/08/2023
Reeditado em 01/11/2023
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