À Sabrina de outrora
Há alguns anos era sábado também... Enquanto andava sonâmbulo rumo à feira, nas proximidades da agência do INSS, naquela rua estreita, passou por mim a pé, sorridente, lenta e alta uma jovem, que fez questão de gritar: "ooolá, panacaaa!".
Não de imediato, acordei de meu sonambulismo intencional e sorri sem graça para aquela desconhecida.
Eu tinha acabado de completar 18 anos e nunca havia passado por situação semelhante, de modo que foi um misto de surpresa e desconforto ouvir aquela expressão informal direcionada a mim.
Senti-me, de certo modo, compelido a reconhecer aquela jovem, para lhe retribuir a saudação. Mas quem disse que eu conseguia me lembrar de seu semblante ou nome?
— Você não está me reconhecendo, Paulo?
— Oxeee! Paulo? Deve ser engano, moça.
E era, como constatou a jovem ao se aproximar mais pertinho de mim, conferir minha arcada dentária e humor.
— Desculpa. Eu confundi.
— Tudo bem. É minha primeira vez nessa posição, moça. Da próxima eu prometo ser Paulo, tá?
Não sei se a jovem percebeu minha sinceridade. Suspeito, porém, que não, pois fechou os dentes, diminuiu quase um metro de carisma e seguiu adiante muito velozmente.
Nem parecia a Sabrina de outrora.