Diálogo
- Nós tínhamos uma história em nossas mãos. Algo pra contar com sorriso em nossos lábios. E agora? Eu já não sei... - Ele falou, com a voz embargada.
- Quem disse que ainda não temos? - Ela respondeu depois de alguns segundos de silêncio.
- Não tenho mais o sorriso.
- Entendo.
- Talvez nunca tenha sido parte dos planos, não é?
- De que planos?
- Dos seus.
- Nunca pensei nisso.
- Esse é o problema. Você não pensa... Você nunca vê consequências.
- E por que isso é tão importante pra você?
- Se você está realmente me perguntando isso é por que você nunca entenderia. Mesmo que eu explicasse.
- Ok.
- E você sempre odiou quando eu tento explicar o óbvio.
- O que é óbvio pra você não necessariamente é óbvio pra mim.
- Exatamente.
Ele levou as mãos até os olhos e sufocou algumas lágrimas antes que elas escorressem.
- Como não pude enxergar isso antes?
- Você só vê o que quer ver.
- Então a culpa é minha?
- Ninguém tem culpa. - Ela murmurou. Como se quisesse matar de uma vez a discussão.
- O que você vai fazer quando eu desaparecer? - Ele perguntou.
- O que eu sempre fiz... Vou esperar você voltar.
- Talvez eu não volte.
- Talvez.
- E o que você vai fazer nesse caso?
- Talvez eu te procure. Não sei. Não quero pensar nisso agora.
- Justo.
Os dois se levantaram e se olharam diretamente nos olhos.
O cenário era irrelevante. O passado, o futuro. O mundo. Todo o resto...
O imprevisibilíssimo acidente que os uniu,
a última das circunstâncias,
a próxima guerra mundial.
Tudo tinha perdido a importância,
quando aquele olhar se rompeu,
e quando ela saiu do personagem,
e desceu as escadas,
e não havia mais nada
a se falar