Diálogo

- Nós tínhamos uma história em nossas mãos. Algo pra contar com sorriso em nossos lábios. E agora? Eu já não sei... - Ele falou, com a voz embargada.

- Quem disse que ainda não temos? - Ela respondeu depois de alguns segundos de silêncio.

- Não tenho mais o sorriso.

- Entendo.

- Talvez nunca tenha sido parte dos planos, não é?

- De que planos?

- Dos seus.

- Nunca pensei nisso.

- Esse é o problema. Você não pensa... Você nunca vê consequências.

- E por que isso é tão importante pra você?

- Se você está realmente me perguntando isso é por que você nunca entenderia. Mesmo que eu explicasse.

- Ok.

- E você sempre odiou quando eu tento explicar o óbvio.

- O que é óbvio pra você não necessariamente é óbvio pra mim.

- Exatamente.

Ele levou as mãos até os olhos e sufocou algumas lágrimas antes que elas escorressem.

- Como não pude enxergar isso antes?

- Você só vê o que quer ver.

- Então a culpa é minha?

- Ninguém tem culpa. - Ela murmurou. Como se quisesse matar de uma vez a discussão.

- O que você vai fazer quando eu desaparecer? - Ele perguntou.

- O que eu sempre fiz... Vou esperar você voltar.

- Talvez eu não volte.

- Talvez.

- E o que você vai fazer nesse caso?

- Talvez eu te procure. Não sei. Não quero pensar nisso agora.

- Justo.

Os dois se levantaram e se olharam diretamente nos olhos.

O cenário era irrelevante. O passado, o futuro. O mundo. Todo o resto...

O imprevisibilíssimo acidente que os uniu,

a última das circunstâncias,

a próxima guerra mundial.

Tudo tinha perdido a importância,

quando aquele olhar se rompeu,

e quando ela saiu do personagem,

e desceu as escadas,

e não havia mais nada

a se falar

Rômulo Maciel de Moraes Filho
Enviado por Rômulo Maciel de Moraes Filho em 04/08/2023
Código do texto: T7853440
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