BANDO MISTURADO (crônica)
A miscigenação tem sabores além de cores...
Prazeres vê-los livres, queimando pezinhos na areia, gritos risonhos espantando Siris, mãos colhendo conchas. Quando decido pelos pastoreios à beira d’água do Atlântico, enfileiro-os, admirando as suas diversidades: morenos crescidos são dois, negrinhos lindos de morder contam-se quatro, loirinhos sapecas somam-se dois. Eis hoje a minha turma, eis meu bando, eis os frutinhos dos meus frutos.
E, assim que as águas entregam nos pezinhos os recados do além-mar lá da África, ensino-os a verem como são tão Misturebas-Belos-Seres, juntados de uma única raiz de cores incomparáveis: Relato a eles o que sei dos antepassados, lugares natais distantes, levantando indagações se outros descendentes aportarão aqui e quem sabe, trazidos pelas brumas, pelos ares ou pelas lembranças.
Ensino-os do culpado: o Criador. Ele, além de observador de nossas caminhadas, é um miscigenador incorrigível, pois fez negros e brancos, e misturou os pincéis sem lavar para surgirem amarelos e vermelhos, também. Alertei-os: Se Deus mistura e tudo ajunta, façam vida adiante não colocando cores nos amores: Apenas, amem.
E as águas que trouxeram recados de lá, retornaram com dez recados de cá. Após o devaneio, o meu dito foi ouvido e compreendido por todos. Voltamos, então, cientes da areia onde até eu passei a infernizar os Siris com brincadeiras: sentindo-se livre e feliz como eles; sendo eu novamente criança; e merecidamente.