Escutávamos a música "Pensamento" do Cidade Negra e ela cantava sem ritmo, sem acertar uma nota sequer e éramos crianças; onde era BOM errar... onde o erro sempre era uma oportunidade de aprender e acertar depois. Uma criança que passou as férias comigo, prima do primo do primo... em minha casa dividindo minhas riquezas e pobrezas. A piscina do vizinho... meus brinquedos. Compartilhando minha falta de ideais com as faltas de ideias dela. "Ela veio da Boca do Acre" dizia minha mãe. Sobre o quê conversávamos? Não lembro. Jamais poderia escrever um livro de memórias... esqueço tudo!

Ela tinha um nome, que não quero lembrar nem dizer. Existe um "compartimento consciênte" de nomes e faces em minha cabeça. Outras coisas eu ponho nas gavetas de baixo. Escolho esquecer certas coisas... Coisas que com 40 segundos de esforço se tornariam memórias. Em trinta dias com ela, é só o que lembro... Então, se essa música tocar, seu rosto e sua voz virão junto com ela. Ela já morreu. "Pensamento é um monte que nos leva a emoção" ... 

Minha mãe me contou algo sobre casar-se cedo, ter filhos ainda mais cedo; como que numa fuga d'uma centena de milhares de homens bem mais perigosos e terríveis que seu marido arranjado. E como começou tudo mais cedo... Encerrou cedo também. Ela já morreu. E deve ter uns cinco anos que isso aconteceu. Morreu do quê eu não sei. Só agora, agorinha que pensei nisso. Minha internet tinha caído no meio duma aula importante (que aula não é?). "Pensamento positivo que faz bem ao coração...". Se tenho um arquivo de memórias documentadas, todas com prazos vencidos... Seria melhor que não tivesse arquivo nenhum...! 

 

(H.B)

Henrique Britto
Enviado por Henrique Britto em 02/08/2023
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