Subterfúgios
Feliz de quem levou somente apenas alguns arranhões no percurso da sua trajetória... pois os estragos que a vida nos causa, deixa a nossa alma em pedaços, enquanto os seus remendos, esses não dá para escondermos, e sem auto piedade, temos que seguir... e quantas vezes tentando amenizar esses danos, nos envergonhamos, nos escondemos, calamos a nossa voz que sufocada nem quer mais sair, não, não somos invisíveis, a vida não está nem aí para a nossa exposição, ou recolhimento, ela nos cobra um bocado quanto às nossas fraquezas, daí temos que buscar uma resistência, tirada dos restos que sobraram de nós, mas essas cicatrizes, com o tempo, nos habituamos a carregá-las sem mais tentarmos maquiá-las a todo custo, apenas disfarçamos àquela bem mais forte, a que feriu mais fundo, é que depois de quebrada, a alma nunca mais volta a ser como antes, fica visível demais para qualquer um, que por nós passar e quiser parar e observar. Nisso, fingimos só para nós mesmos, esquecer dessas dores que nenhum tempo fará sarar, nos ludibriamos, e vamos vida à fora, com os nossos subterfúgios... olhando uma lua lá no céu exuberante, folheamos poesias, ou às vezes até mesmo sentados na frente de um ipê, vez por outra, sentindo o vento passar derramando uma de suas flores, nelas, vai a triste reflexão sobre nós mesmos, e caindo a flor, uma a uma, num jeito mágico, a alma furta cor, e feito borboleta, ela foge, mistura-se às folhas e flores, some, a alma fala sozinha, sai juntando resto também de palavras vãs, numa forma de amenizar o seu sofrimento, assim é que ela afaga o próprio coração que pulsa sem mais nenhuma razão, mas só ele, sabendo que é preciso doer e ao mesmo tempo sorrir, mesmo sem amor, ele ainda quer se iludir. É que o dia a dia, nos consome, e a gente é o próprio coração que se sente mesmo muito cansado de tudo, de tudo.