Parafuso Solto
PENSO que sou mesmo um caso perdido. Não, não por causa da idade e nem da precária situação financeira, nem tampouco aos achaques da velhice e nem à asma crônica, mas à mania de ficar sonhando acordado, fazendo de conta, querendo ser palmatória do mundo. Opinando até sobre coisas que desconhece. Sou. Sou um babaca. Talvez esteja, como dizia minha avó, “variando”.
Agora dei para conversar com meus botões e travesseiro, também ficar divagando na janela. Chego até a inventar diálogos sobre as pessoas que passam, dou nome a elas, invento profissões e bolo o que edtão conversando. Como se criasse legendas como num filme. Sem esquecer do auge da babaquice criando cenas onde participo de debates com os graúdos do poder dizendo-lhes frente a frente poucas e boas. Só vai rindo. Mas, graças a Deus, consigo parar o delírio. Vou confessar algo: acho que essa fantasia é uma espécie de terapia. Sim, porque não me levo a sério, sei que sou apenas um caçador de ticacas, um cara comum. Alguém que gosta de divagar e que deve ter um parafuso solto. A bem da verdade quem não tem um parafuso solto é anormal. William Porto. Inté.