O ALBATROZ AZUL.

    Hoje, terça-feira, dia do escritor, glorioso 25 de julho, me permitam resenhar o romance de um autor genial... O livro escolhido foi o último escrito por João Ubaldo Ribeiro.

   Embora essa crônica esteja sendo publicada no domingo... Me debruço a escrevê-la no dia do escritor.

    Este foi o último romance do imortal da academia Brasileira de letras, João Ubaldo Ribeiro, um livro belíssimo, que fala justamente de vida, morte e renascimento. Tertuliano é o protagonista desta história, ele sabe que a sua morte está próxima, porém, ele encara a morte com serenidade. Tertuliano não se considera velho, mas alguém cheio de sabedoria e experiência. A chegada do seu novo neto, o oitavo filho da filha Belinha e Saturnino, o deixa profundamente eufórico, Tertuliano escolhe o nome do neto, Raymundo Penaforte, impôs o nome a todos, sem contestação, nem mesmo Saturnino e Belinha interveio. O velho insistiu no nome por considerá-lo nome forte, de boa ressonância. Certo dia, quando Tertuliano chegou à casa da filha, Belinha, que, justamente naquele fim de tarde de domingo, estava prestes a ganhar. Belinha é filha de Altina, com quem Tertuliano não vivia mais. O avô acompanha o nascimento do neto, o primeiro homem na família, Altina, experiente parteira, conduz o nascimento. O menino nasce finalmente, curiosamente de bunda pra lua, Tertuliano alegra-se, pega o neto, celebra alegremente, vira-o de bunda para lua e em seguida reza, já era noite,o avô abençoa-o e o entrega para a filha e o genro. Devolveu-o envolvendo o menino em uma coberta azul, que ele mesmo havia comprado, pois tinha certeza que vinha neto homem. 

     Tertuliano espalha a notícia do nascimento do neto, conversa com o amigo Gato Preto, vidente, sobre a certeza da sua morte que se aproxima, os amigos acham que ele está ficando louco. Tertuliano agora busca alguém para batizar o neto, vê-se em dificuldade de escolher alguém apropriado, por fim, seu Zé Honório, amigo, bem de vida, é o escolhido, Tertuliano avisa-o que não estará no batizado, tendo por certeza a morte já tão próxima de si, mesmo reprovado por Gato Preto, o amigo que conhece das artes mágicas e afins, Zé Honório não estranha a certeza de Tertuliano. O amigo, Zé Honório, propõe a Tertuliano, ser mais do que um padrinho para o menino, mas sugere ser uma espécie de segundo pai, auxiliando na criação do garoto, O avô e o pai concordam com Zé Honório, que por sua vez acerta com o avô e o pai todos os pontos concernentes a criação do menino, o que ensinar e não ensinar, o tipo de educação, profissão, tudo. Tertuliano fica impressionado com o conhecimento do amigo e o que ele poderá fazer para o menino. Zé Honório chama Tertuliano para uma conversa particular em seu escritório, ao entrar, o velho depara-se com uma estante repleta dos mais diversos livros, e tantas outras coisas maravilhosas de se ver. Com base no que Tertuliano dizia, que sua morte estava próxima, o amigo lhe oferece algo inusitado, um frasco com um certo veneno, para que, ao chegar a hora certa da morte, seu Tertuliano fizesse proveito do frasco, ajudando-lhe no seu intento tão desejado dando auxílio na morte. Mas algo porém aconteceu, depois de passar no bar, e de uma conversa com Zirinha Quadra, seus pensamentos e idéias ficaram confusos, foi para casa, pensou em tomar o veneno, mas não teve coragem, Tertuliano então deitou-se, certo que morreria durante o sono, assim fez. O livro termina com Tertuliano acordando, ou não, para ele, é como se parecesse ser um Albatroz azul gigante, a beira da praia, contemplando a paisagem, seria aquela sua morte? Ou o seu renascimento? Quem sabe, apenas mais um dia na vida de Tertuliano.

   SOBRE O AUTOR.

   João Ubaldo Ribeiro (1941-2014) foi romancista, cronista, jornalista, tradutor e professor brasileiro. Membro da Academia Brasileira de Letras ocupou a cadeira nº 34. Em 2008 recebeu o Prêmio Camões. Foi um grande disseminador da cultura brasileira, sobretudo a baiana. Entre suas obras que fizeram grande sucesso encontram-se "Sargento Getúlio", "Viva o Povo Brasileiro" e "O Sorriso do Lagarto".

   João Ubaldo Ribeiro (1941-2014) nasceu na ilha de Itaparica, na Bahia, no dia 23 de janeiro de 1941, na casa de seus avós. Filho dos advogados Manoel Ribeiro e de Maria Felipa Osório Pimentel. Foi criado até os 11 anos em Sergipe, onde seu pai trabalhava como professor e político. Fez seus primeiros estudos em Aracaju, no Instituto Ipiranga. Em 1951 ingressou no Colégio Estadual Atheneu Sergipense. Em 1955 mudou-se para Salvador, e ingressou no Colégio da Bahia. Estudou francês e latim.

   Sua formação literária começou ainda nos seus primeiros anos de estudante. Foi jornalista ao lado do amigo Glauber Rocha. Foi um dos jovens escritores a participar do Interational Writing Program da Universidade de Iowa. Formou-se em Direito na Universidade Federal da Bahia em 1962, mas nunca advogou. Em 1963 publicou seu primeiro romance, “Setembro Não Tem Sentido”. Fez pós-graduação em Administração Pública na mesma universidade. Recebeu uma bolsa de estudos para cursar o mestrado em Administração Pública, na Universidade da Califórnia, Estados Unidos.

   De volta ao Brasil, João Ubaldo lecionou Ciência Política na Universidade Federal da Bahia, durante seis anos. Em 1969 casa-se com a historiadora Mônica Maria Rotes, com quem teve duas filhas. Separado, em 1980, casa-se com a fisioterapeuta Berenice de Carvalho Botelho, com quem teve um casal de filhos.

   Sua segunda obra, "Sargento Getúlio" (1971), lhe rendeu o Prêmio Jabuti de Revelação, em 1972. A obra narra a saga de Getúlio Santos Bezerra, sargento da PM que busca a proteção de um político após matar a própria mulher. A obra chegou aos cinemas nos anos 80, protagonizada pelo ator Lima Duarte. Em 1984, ganhou o Prêmio Jabuti com o romance, "Viva o Povo Brasileiro" (1984). O livro, recheado de humor, recria quase quatro séculos da história do país, incluindo episódios marcantes, como a Guerra do Paraguai e a Revolta dos Canudos. A obra foi traduzida para o inglês, pelo próprio autor, ganhando versões em vários outros idiomas. João Ubaldo deixou uma obra mítica e cotidiana, na qual discutia aspectos sociais e políticos, ligados às raízes do Nordeste. Entre seus maiores sucessos estão: "O Sorriso do Lagarto" (1989) que aborda temas como a ambição humana, o amor e as ameaças do mundo moderno, numa história cheia de traições e mistérios. A obra foi adaptada para minissérie da TV Globo nos anos 1990,  Outros campeões de vendas foram: “A Casa dos Budas Ditosos” (1999) e “O Albatroz Azul” (2009), onde conta a história de Tertuliano, herdeiro de um proprietário de terras que teve filhos com duas irmãs. Para não perder a herança, o patriarca precisa se casar com uma delas. Em 1993, João Ubaldo Ribeiro foi eleito para a Academia Brasileira de Letras, para a cadeira nº 34. Em 2008, recebeu em vida o Prêmio Camões, maior honraria da literatura em língua portuguesa.

    João Ubaldo Ribeiro faleceu no Rio de Janeiro, em decorrência de embolia pulmonar, no dia 18 de julho de 2014.

Tiago Macedo Pena
Enviado por Tiago Macedo Pena em 30/07/2023
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