Confissão de um político

Sou um político. Salvo exceções, sou um mau filho.

Sim, um mau filho porque não tenho honrado meus compromissos com a mãe pátria.

Fui eleito, mas não faço parte dos filhos eleitos. Votos me elegeram por conta numérica, mas, não estou fazendo conta do elevado número dos que me elegeram.

Não estou a serviço do meu cargo, estou me servindo dele, pois, à razão do meu mandato, eu imponho as minhas razões. Os deveres eu troco por haveres; sempre me valem os direitos cujas leis eu mesmo faço.

Aqui dentro do parlamento, eu extrapolo no usufruto, pouco me importando o lamento e a revolta dos usufruidos aí fora. Eu até abuso da "mãe gentil". Com a "mãe gentil" de que fala o Hino, eu me excedo na solicitação de gentilezas, por causa das regalias que tenho.

Aliás, o tal Hino, quando tocado, não me toca. Não me interessa sentir o Hino, exclusão do estribilho:"Pátria amada, salve, salve!". Ao meu contento, quando canto, eu digo: - "Pátria amada, salve-me, salve-me!"

Edson Freire
Enviado por Edson Freire em 19/12/2007
Reeditado em 19/12/2007
Código do texto: T784839