Aniversário da Sogra
Já nem me lembro do ano, mas o fato é inesquecível. Minha namorada me ligou dizendo: "Não se esqueça, hoje é aniversário de mamãe. Você sabe como ela é!" Realmente, eu mais do que ninguém conhecia a megera. Quando ganhava presentes, reclamava de tudo. Era asinha torta de penico. Mandava as favas quando lhe davam panelas que não fossem de ferro. Somente um papagaio a agradou, mas por pouco tempo, bateu as asas. Não aguentou o falatório da velha: xingava os vizinhos sem motivo. O carteiro, o entregador de leite e todos que via. Enfim. Naquele dia, fui ao bairro do Brás em São Paulo, onde vendiam de tudo bem baratinho. Verdadeira feira ao ar livre! A gritaria dos vendedores era ensurdecedora: "Dê férias para seus pés! Compre sua sandália de couro de Cabra." "Sorriso saudável. Dentadura que dura!" "Terrível contra os insetos. Espiral para muriçoca, Sentinela." "Aqui tem de tudo para você. Se não tiver, devolvemos o seu dinheiro!" Bem, entrei numa loja lotada de gente até o teto para encontrar o presente da sogra. Logo uma moça me abordou: - O senhor está à procura de alguma coisa? Sim, respondi. Preciso comprar um presente para a minha sogra. A moça perguntou: - Do que ela gosta? Respondi: - Minha filha, na verdade, ela não gosta de nada! A moça insistiu: - Nós temos belas roupas íntimas a preço de custo. O senhor quer dar uma olhada? Fui! Ela me mostrou várias calcinhas coloridas. Umas com rosinhas, outras com girassóis, outras com flores das mais diversas espécies. Logo fiz uma analogia: Ela gosta de jardim, então essa calcinha com flores, certamente irá gostar. Respondi a moça que iria levar uma. Ela me perguntou: - Qual o tamanho? Parei, pensei e falei: - Só sei que parece uma tanajura! Então deve ser “G” ou “GG”. Na dúvida, perguntei: - Não tem “GGG”? A moça sorriu e respondeu: - Aí o senhor quer demais! GG veste até um elefante! Dei um sorriso disfarçado e pedi para embrulhar com papel de presente. Aguardei alguns minutos e a moça me chamou: - O senhor pode ir até o balcão e pegar o presente. Quando cheguei próximo ao balcão, outra moça me entregou o pacote e saí. Mas houve um contratempo que conto no final. À noite, cheguei na casa de minha namorada e logo ela perguntou se eu havia comprado o presente. Disse que sim. Passada uma hora, o pessoal começou a entregar os presentes e a cada um que ela abria torcia o nariz. Eu entrei na fila todo contente, acreditando que dessa vez a sogra iria me dar um grande abraço. Pobre ilusão a minha! Ou melhor: - Palhaço das perdidas ilusões, como dizia Silvio Caldas. Agora conto o contratempo que ocorreu na loja: - Quando chegou a minha vez de entregar o presente, ela foi abrindo e fazendo elogios: - Gostei desse lacinho. Que lindo esse papel! Naquele momento pensei: - Ganhei na loteria! Ao tirar a calcinha deu uma olhada nas cores e respondeu: - Parece o meu jardim! Tem até um bilhetinho! – Bilhetinho? Fiquei de olhos arregalados, pois não havia escrito nenhum bilhete. Enfim, ela começou a ler em voz alta: - "Minha querida, agora só nós dois é que sabemos!" E ao esticar a calcinha... deu um grito: - Minha filha! Eu não falei que esse seu namorado é um malandro disfarçado de príncipe encantado! Olhe só para essa calcinha! É um fio dental! Nem precisa pensar muito para saber o que aconteceu. Trocaram os pacotes na loja.