Cadê sua mãe?

Imagine sua amada mãe, Dona Violeta, que sempre lhe apoiou e ajudou-lhe. Uma pessoa em quem confiou e pediu socorro, que esteve lá para você com carinho e amor. A única pessoa com quem um dia se importou. Sua vida gira em torno de agradá-la.

 

Há muito tempo, você tentava alcançar uma promoção no emprego, e, finalmente, consegue. Logo, você se lembra de sua mãe. Afinal, se não fosse por ela, talvez nunca tivesse conquistado. Não é como se fosse muito estudioso, como lembrou…

 

“Você era uma pessoa atlética, esportes eram a sua paixão. Estava animado combinando de jogar futebol com seus amigos de tarde. Mas, quando chegou o momento, não houve autorização para sair. Haveria prova dali a dois dias, era necessário estudar. A raiva dela lhe dominou o dia inteiro, porém, quando chegou o resultado da prova, a maior nota foi sua.”

 

Você combinou com sua mãe de ir até a casa dela. Por isso, comprou lanches para comemorar ao lado de quem resume sua existência. Porém, quando bate à porta, ninguém atende. Tenta de novo, mas nada acontece. Ao aproximar o ouvido da porta, nada pode ser escutado. Como uma luz no fim do túnel, lembra que tem uma chave e destranca a maçaneta.

 

Assustado, procura sua mãe em toda a casa, que estranhamente está toda arrumada. “Ela deve ter saído, vou telefonar.”, pensa.

 

Um pouco preocupado, você liga para ela com o medo correndo em suas veias. Depois de ninguém atender, desesperado, lembrou ter um amigo delegado e pediu socorro a ele.

 

Depois de um longo tempo de espera, o amigo apareceu. Minuciosamente, ele procurou em cada cantinho alguma prova do que tinha acontecido. E, agoniado, você o esperava dizer onde poderia achar sua mãe querida. Mas nenhuma pista foi encontrada.

 

Ele começou a interrogá-lo. Querendo ajudar, você é o mais sincero possível. Porém, fica desesperado ao ver na cara dele que não tinha nenhuma ideia do que houve. Por isso, resolve ir atrás por si mesmo.

 

De acordo com a teoria formulada por seu amigo Raoni, o sequestrador devia ter se passado por um visitante e, como sua mãe é uma boa anfitriã, ofereceu lanche. O que explicaria a presença da única pista na cozinha: um bolo. Entretanto, você já está começando a desacreditar na história do sequestro. Já que alguém ligaria pedindo dinheiro se fosse o caso.

 

Analisando as louças sujas e a desordem na cozinha, você não percebeu nada de errado. Isso lhe faz cair na real: você não é detetive e não sabe onde procurar os indícios. Mesmo assim, está desesperado para encontrar sua mãe. Então procura os vizinhos, que talvez tivessem ouvido algo. Sua mãe sempre o incentivou a fazer algo que se achasse incapaz, como bem lembrava…

 

"Você estava se arrumando de pressa para ir à escola, estava muito atrasado e teria que correr. Mas sua mãe estava terminando de preencher uns formulários do emprego para que postulava e você precisou apressá-la. Ela suspirou e, preocupada, disse que não poderia levar-lhe. Pois precisava terminar o que estava fazendo. Teria que ir só.

 

Você estava assustado, porque nunca havia saído de casa sozinho antes. Até para brincar estava acompanhado. Contudo, sua mãe assegurou que tudo daria certo. "Blackbird singing in the dead of night/Take these broken wings and learn to fly/All your life/You were only waiting for this moment to arise", ela cantou animadamente enquanto você caminhava para longe."

 

Quando você bate à porta do primeiro vizinho, é uma surpresa. Encontra o Raoni! Parando para pensar, percebe que sentido. Um amigo de verdade não desistiria assim do caso.

 

Assim que seu amigo delegado termina de se apresentar para o vizinho, percebe sua presença no local e pergunta o problema. Você simplesmente diz que queria acompanhá-lo e, se possível, ajudá-lo. Ele agradece e começou a agir.

 

– Qual foi a última vez que viu a Dona Violeta? – Raoni pergunta.

 

– Acho que foi hoje de manhã, quando ela foi comigo ao mercado. – O vizinho responde.

 

– Você percebeu se ela continuou em casa depois de voltar do mercado?

 

– Acho que não saiu outra vez.

 

Vocês agradecem e vão ver outros vizinhos, porém é sempre igual. Sua mãe só saiu de casa de manhã, e foi uma manhã bem longa. Pois todos os vizinhos afirmam terem visto ela fazer algo diferente. Isso apreende você, porque é impossível realizar tudo aquilo! Estão mentindo, são cúmplices! Estão com sua amada mãe!

 

Raoni, depois de questionar todos os vizinhos, se sentou e começou a juntar os depoimentos. Queria se livrar de você, mas insistiu em ficar. Podia não ajudar, mas jurou não atrapalhar.

 

Depois de considerar todos os fatos e elaborar diversas teorias, o delegado resolveu pedir a sua opinião. Portanto, você começou a tagarelar. Depois até tentou prestar atenção na resposta, mas a cada palavra lembrava-se de sua mãe e os bons tempos nos quais ainda podia estar com ela…

 

“Você jogava com sua mãe. Talvez por ter mais experiência, ela tenha ganhado. Afinal, desde quando ela jogava aquilo? Você lançou uma desculpa no ar e disse ganhar a próxima. Sua mãe logo acusou de esfarrapadas suas desculpas e afirmou vencer justamente.

 

Como se já estivesse esperando, ela colocou a música “We are the champions” após a declaração. Você pensou que a ideia foi boa e procurou responder com outra canção, iniciando uma batalha de playlists.”

 

Depois de se perder em lembranças, você percebeu que Raoni tinha parado de falar e olhava em sua direção preocupado. Então você se envergonhou de não ter prestado atenção em seu amigo e ficar pensando em sua mãe nesse tempo. Mas sentir vergonha só piorou seu estado emocional pois trouxe mais lembranças dela...

 

“Era um dia especial na escola. Como era o último dia do ano letivo, a professora deixou todos irem fantasiados à aula. Você não tinha traje nenhum e nem podia comprar, porque era bem caro. Por isso, sua mãe ajudou na construção de uma fantasia com coisas que tinham em casa. Ficou muito legal, portanto, foi animado à escola.

 

Todos os alunos estavam com belas e caras vestimentas e riram da sua improvisação. Você voltou todo tristonho e envergonhado, brigando com sua mãe por ter sugerido algo tão humilhante.

 

"Oh, querido. Não fique triste! Eles têm inveja de você porque não têm nossa criatividade. Mas se você quer mesmo uma fantasia sem graça feita numa indústria, eu compro uma para você.", disse ela enquanto lhe abraçava."

 

Enquanto sua cabeça enche de recordações, Raoni percebe seu olhar triste e tenta consolar-lhe. Depois de perceber que não conseguiria, resolve acompanhar-lhe a um psicólogo. Como a última coisa que queria era encarar um terapeuta, diz estar melhor e dispensa-o. Entretanto, o amigo insiste em estar junto. Então voltam à sua casa caminhando lenta e tristemente.

 

Quando chegam, você abre a porta do seu apartamento sem a menor vontade de entrar. Ao terminar de girar a chave, percebe algum som vindo de dentro. Tal capitação de seu ouvido fez mudar todo o seu ânimo. Com medo de ser algum assaltante, preparou-se para lutar, mesmo com seu amigo alegando exagero. Mas, quando abriu a porta, tudo que viu foi sua mãe e o apartamento todo decorado. Imediatamente, correu para abraçá-la.

 

– Mãe, eu estava tão preocupado... – Você diz aliviado.

 

– Falei que não era assaltante nenhum. – diz Raoni rindo.

 

– Você sabia?! – diz fingindo indignação.

 

– Oh, querido... Me desculpe, não queria assustar você. Só queria fazer uma festa para comemorar sua promoção. E, se quer saber, demorou tanto que estava quase saindo daqui para procurá-lo.

 

– Obrigado mãe. – Diz emocionado.

 

Logo após, todos os vizinhos da sua mãe aparecem dando os parabéns. Só que você não presta muita atenção neles, pois essa cena despertou mais memórias…

 

"Era a realização de um sonho para você, finalmente faria dez anos de existência! Parece que demorou anos... Epa, demorou mesmo! Já se sentia diferente.

 

Assim que chegou na escola, a primeira coisa que fez foi gritar aos quatros ventos que era seu aniversário! Claro que teve que aguentar toda a zoação, mas não era como se estivesse fazendo 9 anos. Agora já era grande demais para se importar com isso.

 

E, quando chegou da escola, surpresa! Sua mãe tinha feito uma festa para você. Por muitos segundos, encarou as duas velhinhas: o um e o zero."